RJ – Fala Quilombola: Quilombo Santa Rita do Bracuí, Angra dos Reis, 25 de Setembro de 2013
Por Emerson Mec
“A bença papai, a bença mamãe também,
Eu não sou malcriado com ninguém.”
(Jongo Santa Rita do Bracuí)
De fato temos que agradecer o conhecimento que recebemos de nossos anciões conhecido também como Griôs. Por eles que conseguimos resistir e passar a nossa História de Luta e a nossa Cultura. Como resultado dessa resistência, quatro quilombolas de Santa Rita do Bracuí foram para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para adquirir um pouco mais de conhecimento e representar a comunidade Quilombola de Santa Rita do Bracuí e também para garantir seus Direitos, abrindo espaço para toda e qualquer Comunidade Quilombola do Estado do Rio de Janeiro, nos parâmetros da Formação de Licenciatura em Educação do Campo, junto com outros movimentos sociais como MST, FETAG, Ocupação Urbana, Caiçaras, Indígenas, CPT, Liga Camponesa, entre outros amigos, que contribuíram também para tal conquista. Não é fácil se assumir Negro, Quilombola dentro dessa sociedade hipócrita e racista, muito menos dentro de uma Universidade onde seu modelo de ensino não foi construído para o nosso povo negro. Quebramos mais um paradigma e seguimos nosso caminho com a força dos nossos ancestrais, familiares e amigos que torceram para sairmos dos Grilhões e ocupar de fato as salas da Casa Grande desse País. O que mais nos entristeceu foi a falta da presença dos nossos representantes legais, os membros da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombola (CONAQ) em todo o processo de formação desse curso e suas especificidades.
Durante esses 3 (três) anos de formação, nós do Quilombo de Santa Rita do Bracuí socializamos os convites aos nossos representantes legais e solitariamente participamos de inúmeras reuniões para a construção de uma nova turma de licenciatura em Educação do Campo, pensando não só no futuro dos Quilombolas de nossa comunidade mais, sim, no futuro de todos das Comunidades Negras Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro. Quilombolas esses, que poderão ter a oportunidade de ingressar em uma Universidade Federal, assumindo sua Identidade Negra Quilombola.
Parabenizo aos movimentos sociais citados acima, pois conseguiram a participação de seus líderes e parceiros no processo de construção desse curso. Parabenizo à Aldeia Indígena Sapucaia, localizada no Bairro Bracui, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, por ser de seu Território o primeiro Indígena Formado em Ensino Superior em todo Estado do Rio de Janeiro. Também não posso deixar de citar, a força e a garra desses 4 (quatro) jovens quilombolas (Marcos Vinicius, Fabiana Ramos, Angélica de Souza e Luciana Adriano) formados em Licenciatura em Educação do Campo, que com sua força de vontade conseguiram lutar e vencer, fazendo com que se compreenda e respeite a luta por educação do nosso povo Quilombola, onde o negro, em sua maioria, sempre foi excluído desse direito. Finalizo com as palavras do nosso Povo Jongueiro que diz: “Eu seguro sua mão na minha para que juntos possamos fazer aquilo que não podemos fazer sozinho!”. Onde nos mostra que a força e a união são o combustível para vencermos os obstáculos que a desigualdade, a intolerância e o preconceito põem em nossos caminhos.
Muita paz a todos os irmãos e irmãs com muito asé!
“Adeus, adeus, eu vou me embora,
Fica com Deus e nossa senhora.”
(Jongo Santa Rita do Bracuí)