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UM TERRITÓRIO : Linharinho

Por Ana Gualberto

A comunidade de Linharinho está localizada nas “terras do Negro Rugero”, situadas ao longo dos córregos São Domingos e Santana, ocupando 200 hectares. As terras da comunidade pertenciam à fazenda de Rita Cunha, grande produtora e comerciante de farinha de mandioca na região, dona de uma sesmaria às margens do rio Cricaré, que cortava os municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Negro Rugero (Rogério) era um dos “mestres de farinha” que trabalhavam para dona Rita, mas, em meados do século XIX, “aquilombou- se” com mais 30 escravos em um trecho da vasta propriedade.

Dona Rita, ao invés de iniciar um confronto, preferiu fazer um acordo com Negro Rugero: o quilombo não seria perseguido, mas em troca produziria farinha de mandioca em larga escala para a proprietária das terras, que teria a exclusividade de sua compra e descontaria dos pagamentos parcelas correspondentes ao preço de cada escravo fugido. Assim, o quilombo do Negro Rugero tornou-se um dos maiores produtores de farinha de São Mateus, com mais de dez casas de farinha e uma produção de cinqüenta sacas ao dia.

Após a morte de dona Rita, a paz garantida pelo acordo acabou. Em 26 de junho de 1881, uma força policial do governo provincial, apoiada pelas milícias dos proprietários rurais de São Mateus, invadiu o quilombo, com o pretexto de se antecipar a uma insurreição geral dos negros, que estaria sendo planejada entre Negro Rugero e outras lideranças quilombolas. O quilombo foi destruído, e junto com ele a concorrência dos negros aquilombados na produção de farinha, mas nem todos foram capturados.

Os negros que conseguiram fugir ocuparam terras próximas aos córregos da região. Muitas comunidades foram organizadas a partir desse período, mantendo entre si laços culturais, religiosos e por muitas vezes de parentesco. Essas comunidades compõem um grande território negro identificado como Sapê do Norte e estão nos municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Em 2001, foram encontradas 32 comunidades que resistiram às tentativas de expropriação imobiliária vinda de fazendeiros e empresas, principalmente de agentes da Aracruz Celulose S/A.

Durante os últimos anos, o grupo vem sofrendo pressões permanentes para sair de suas terras. Entre 1980 e 1990, a Aracruz Celulose enviou mensageiros e negociadores, que chegaram mesmo a fazer ameaças a seus moradores para que vendesses suas terras. De fato, algumas famílias venderam e outras perderam suas terras, levando a um grande êxodo para os municípios de Linhares e de Vitória.

Algumas vezes essa perda se deu por meio de métodos violentos, como no caso da família do sr. Juventino, ex-morador da margem direita do córrego de São Domingos. Depois de resistir às investidas de Zé de Gugu, intermediário da Aracruz Celulose, sr. Juventino teve sua casa incendiada de forma criminosa, sua terra cercada e depois vendida para a empresa. Hoje, ele vive na comunidade do Córrego do Sertão, distrito de Braço do Rio.

A luta da comunidade para permanecer em seu território tem alcançado visibilidade nacional. Nos últimos anos os enfrentamentos com a Aracruz Ceculose têm se intensificado. No mês de julho de 2007, a comunidade ocupou por 20 dias parte do seu território tomado pela empresa e só saiu de lá quando a justiça determinou a reintegração de posse. Entretanto, essa aparente derrota não teve o efeito esperado: a comunidade se fortaleceu e está longe de desistir de voltar ao seu território.

FONTE: Boletim Territórios Negros v. 7, n. 29, maio/jun. 2007

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