• (21) 3042-6445
  • comunica@koinonia.org.br
  • Rua Santo Amaro, 129 - RJ

UM POUCO DE HISTÓRIA: Cemitério dos Pretos Novos

Em meio à reforma de uma casa situada na Rua Pedro Ernestro, no bairro da Gamboa, zona portuária do Rio de Janeiro, em 1996, os pedreiros encontraram inúmeros ossos misturados a terra revolvida. Foi a descoberta de um tesouro arqueológico: o cemitério dos pretos novos, isto é dos escravos recém chegados da África. Embora vários viajantes do século XIX tenham feito menção à existência desse cemitério, sua localização havia sido perdida. Com essa descoberta, foi possível comprovar o tratamento dado os escravos que nem chegavam a ser incorporados à sociedade escravista brasileira.

O cemitério foi criado em 1722 e desativado em 1830. Seu tamanho era de 110 metros quadrados e recebeu, entre 1824 e 1830, a quantidade de 6119 corpos, como consta no livro de óbitos da freguesia de Santa Rita, que era a responsável pelo local. Nesse mesmo livro, eram registrados os navios, as nações, os portos de origem, os donos, as idades e até as marcas que os escravos recebiam aos embarcarem nos navios negreiros.

A banalização do sepultamento dos “pretos novos” era devida à falta do batismo cristão, já que o rito do sepultamento realizados nas igrejas realizava a idéia da “boa morte”, e, como os negros não eram cristãos, não eram merecedores de tais ritos.

Ao analisar o livro de óbitos da freguesia de Santa Rita no período referido, percebemos que cerca de 30% dos escravos eram provenientes do porto de Angola, 30% de Benguela, 10% de Luanda, 10% de Moçambique e uns 20% de outros portos, quase todos de povos banto, que tinham uma forma diferenciada em seus ritos fúnebres.

Para os bantos o mundo é divido em duas dimensões que se completam. Uma é a do mundo físico, este que habitamos. A outra é das coisas invisíveis, onde vivem seus ancestrais. O papel dos ancestrais é ser o intermediário entre o Ser Supremo (Deus) e os homens. Nessa dimensão os mortos se encontram com seus ancestrais para atravessarem a Kallunga (separação entre esta vida e o além), que para eles era o próprio mar. O culto aos ancestrais ocupa um lugar central para o povo banto. Os homens devem agradar seus ancestrais para garantir boas colheitas, evitar desgraças, ter uma boa vida e também uma boa morte.

Dos escravos enterrados no Cemitério dos Pretos Novos, foi tirado não só o direito de viver como o direito de garantir, segundo sua religiosidade, uma boa morte.

Ana Gualberto Graduanda em História – UERJ

Fontes Bibliográficas: Revista Nossa História ano 3 nº 33: “Os pretos novos que não chegaram a velho”, Júlio César Medeiros da Silva Pereira (a ilustração foi tirada do mesmo artigo da revista). Para saber mais: Acesse www.pretosnovos.com.br

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 7, n. 28, mar./abr. 2007

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo