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Projeto propõe apoio a quilombos urbanos

Ciro Brigham

A grade frontal que protege o busto em homenagem à mãe-de-santo Maria Valentina dos Anjos Costa, a doné Runhó, do Terreiro de Bogum, foi arrancada recentemente. Uma placa publicitária pendurada ao lado oferece serviços de mecânica de autos. Atrás, uma pilha de sacos de lixo e um pneu velho jogado por cima. Cenário que ilustra bem o que o Projeto de Mobilidade Urbana no Circuito dos Terreiros do Engenho Velho da Federação pretende mudar: o tratamento histórico dispensado às comunidades quilombolas das grandes cidades brasileiras e à simbologia de sua cultura.

A reurbanização da Praça Mãe Runhó está prevista no convênio assinado entre as secretarias municipais de Reparação e Habitação e o Ministério das Cidades, durante o Seminário Quilombos Urbanos/ Territórios Étnicos: Construindo Políticas Públicas de Inclusão Social em Territórios Negros das Cidades Brasileiras, realizado entre segunda-feira e ontem, em Salvador. Dos R$1,5 milhão solicitados pela prefeitura, o governo federal assegurou inicialmente R$420 mil, que serão usados em obras de melhoria nos acessos aos terreiros e em sua regularização fundiária.

Ontem, representantes de entidades negras, prefeitura e Fundação Cultural Palmares fizeram uma visita ao busto de Maria Valentina dos Anjos Costa e ao terreiro Ilê Axé Oyó Bomi, de Mãe Beth, após o encerramento do seminário. Já Mãe Índia, do terreiro Zoogodô Bogum Malê Rondó (Terreiro de Bogum), neta de Mãe Runhóv (fundadora), não participou por não ter sido avisada a tempo.

Este busto é o único monumento público à população negra e à mulher negra que temos em Salvador, lembra a secretária de Educação, Maria Olívia Santana. Ela diz que o seminário foi um ponto de partida na elaboração e execução de ações integradas para a melhoria das condições de vida das mulheres negras nas comunidades quilombolas.

As entidades têm cobrado serviços de saneamento, água de qualidade, segurança, infra-estrutura. Vivemos o momento de resgatar essa dívida histórica que o Brasil tem com as populações negras dos quilombos urbanos, colocou o secretário de Reparação, Gilmar Santiago. Estamos em discussão com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que tombe cada quilombo que for reconhecido por nós, informa a diretora de proteção do patrimônio afro-brasileiro da Fundação Palmares, Maria Bernadete da Silva.

Para o presidente da Associação de Moradores do Engenho Velho da Federação, Orlando Barbosa, o momento é propício à definição da questão fundiária, que se arrasta há mais de 50 anos no bairro. Uma parte pertencia à antiga fazenda Madre de Deus, da família Figueira Santos. Não há herdeiros definidos para o espólio e as famílias que moram aqui não têm escritura de suas casas. Focar essa discussão é uma esperança pra gente, comenta Barbosa. O resgate ainda vem a tempo, temos sede e fome de oportunidade para aclamar nossos espaços sagrados, define o presidente da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu), Raimundo Konmannanjy.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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