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Mostra exibe mapas de áreas quilombolas

Cartografia de um povo

Quando começou o projeto Geografia afro-brasileira, há 15 anos, Rafael Sanzi dos Anjos, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), conseguiu mapear 840 comunidades quilombolas no Brasil. A pesquisa tomou corpo, ganhou divulgação e, no mais recente mapeamento, Rafael se deparou com 2.230 remanescentes de quilombos. O aumento foi tão grande que a equipe do projeto, formada por oito pessoas, precisou reformular o mapa no qual vinha trabalhando. O resultado será apresentado ao público a partir de hoje na exposição A África, o Brasil e os territórios dos quilombos, em cartaz no Átrio dos Vitrais, na Caixa.

A mostra tem textos e fotografias de apoio, mas o grosso mesmo são os mapas produzidos pelo Geografia afro-brasileira para identificar a localização dos povos quilombolas do Brasil e suas formações. “O projeto tem três portas de entrada e a principal é a cartografia dos quilombos. Esses territórios estão ameaçados de deixar de existir. A Constituição reconhece a necessidade de demarcar e titular essas terras, mas isso acontece de maneira muito incipiente, aquém da quantidade dos territórios quilombolas existentes”, explica Rafael, curador de A África, o Brasil e os territórios dos quilombos. “Quilombo é visto como passado, mas não é passado, é presente.” Os outros dois pontos de apoio do projeto estão nas matrizes africanas presentes no território brasileiro e nos quilombos, as comunidades formadas principalmente pelos escravos revoltos, mas também por índios e brancos excluídos da sociedade.

O primeiro módulo da exposição é dedicado à África e sua geografia, com mapas dos reinos africanos, suas divisões geopolíticas e suas riquezas. Há espaço também para uma série cartográfica da presença africana no Brasil no momento da escravidão. “Os africanos trouxeram as tecnologias dos trópicos. Para cá vieram bons agricultores, bons mecânicos, bons médicos. Trazemos um pouco dessa referência da importância da tecnologia africana”, conta o curador. Há ainda um módulo destinado à metodologia de pesquisa do projeto e outro para a exata localização dos 2.230 quilombos cadastrados. “Essa cartografia aponta com precisão o que está acontecendo”, conta Rafael. “A idéia é mostrar o trabalho que fazemos, mas também propor uma solução. Esses mapas são inéditos e ajudam na visibilidade espacial.”

Para sensibilizar o governo o Geografia afro-brasileira doou para governadores, procuradorias, institutos da terra, núcleos universitários de estudos geográficos e entidades negras 40% dos mapas editados neste ano. Em outubro, a exposição segue para Paris, onde participa do programa oficial do Ano do Brasil na França e, em breve, a Globo News exibirá documentário que está em fase de produção sobre os Kalunga, comunidade quilombola da Chapada dos Veadeiros. Rafael acompanhou as filmagens e trabalhou como consultor para a emissora. “Todo o dilema dos remanescentes de quilombo está lá, nos Kalunga. É uma comunidade de três séculos e que vive o bombardeio sistemático das terras que são deles, de direito. Outro dia, morreu uma pessoa lá por causa de um fazendeiro”, lamenta o professor, que viajou por todo o país em busca de povoados identificados como herdeiros dos quilombos.

A ÁFRICA, O BRASIL E OS TERRITÓRIOS DOS QUILOMBOS

Exposição de mapas sobre a presença africana no território brasileiro. Até 25 de setembro, no Átrio dos Vitrais do Edifício-Sede da Caixa. Visitação: de terça a domingo, das 9h às 21h.

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