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Quilombolas cobram maior atenção por parte do Estado

Quilombolas reclamam assistência

Comunidade quer preservar raízes em Campo Formoso, mas não tem direitos básicos como educação, saúde e alimentação

Cristina Laura

JUAZEIRO (DA SUCURSAL NORTE) – Cem quilômetros por uma estrada de chão separaram o povoado de Lages dos Negros (área de remanescentes de quilombo) da sede do município de Campo Formoso, norte do Estado. Cerca de seis mil pessoas vivem à espera de melhores condições de infra-estrutura, saúde, educação e transporte, e a economia local gira em torno da agricultura, com o cultivo de mamona, milho, feijão e sisal.

A preocupação é passada por uma das moradoras da comunidade que, apesar das dificuldades, não se deixou enfraquecer, saiu da comunidade, estudou, fez supletivo e chegou à universidade. Hoje, Ilta Costa Araújo, integrante do movimento Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, é formada em pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia e luta para que a população de Lages dos Negros seja beneficiada com o mesmo direito que ela teve.

– É necessário que alguma coisa seja feita para impedir que os jovens saiam da comunidade, se afastem das famílias e ainda corram o risco de esquecer suas raízes – defende a pedagoga.

A secretária da Educação do município, Noélia Carvalho, diz que existem cerca de 20 escolas das redes municipal e estadual em toda a região de Lages dos Negros e que o ensino médio da comunidade funciona por meio do programa Ensino Sem Fronteiras com o Telecurso 2o Grau.

RACISMO – “Temos quatro turmas de 45 alunos, cada uma, com todo o material necessário para que os estudantes possam terminar os estudos a distância no período de um ano e meio”, argumenta a secretária. Ela adianta que os professores estão sendo capacitados
para trabalhar a afrodescendência em sala de aula, de acordo com a Lei 10.639, que determina a inclusão das histórias africana e afro-brasileira no currículo das escolas para acabar com o racismo no Brasil e possibilitar a participação igualitária para todos os grupos na sociedade.

Segundo Ilta Araújo, Lages dos Negros resiste a uma série de precariedades que podem ser modificadas por meio da ação da Prefeitura de Campo Formoso, responsável pela área. “Temos dois postos de saúde, o mais recente tem uns três anos, mas nenhum funciona, não tem nenhuma equipe médica no povoado.

Se alguém precisar, tem que percorrer os 100 km de estrada de chão; e, quando chove, a distância aumenta, pois a estrada é de terra”, afirma Ilta. “A filha que eu esperava morreu depois de um trabalho de parto na estrada, dentro de um carro a caminho do hospital em Campo Formoso e de duas horas esperando a equipe médica”, desabafa.

De acordo com o secretário de Saúde de Campo Formoso, Geovani Costa, os equipamentos para o posto de saúde estão sendo adquiridos, a equipe médica já está formada (médico, dentista, enfermeiro, fisioterapeuta) e a previsão é que seja inaugurado em outubro.

Roças de maconha proliferam na região

Outro problema preocupa não só a comunidade como a Polícia Civil. A distância da cidade e a dificuldade para se chegar a Lages dos Negros favorecem o plantio de roças de maconha e o aliciamento para trabalho nas plantações. Sem agentes suficientes para cobrir mais de 160 povoados da região, a polícia não consegue trabalhar como gostaria.

“Por ser quase toda formada por familiares, é muito difícil se ter registro de ocorrências vindas de Lages dos Negros, e o fato de só ter uma viatura e a estrada de acesso não ser asfaltada dificulta o trabalho”, assegura o delegado Carlos Alberto Botelho Vasconcelos.

As dificuldades enfrentadas pelos moradores de Lages dos Negros provocaram, em anos anteriores, um aumento na saída de parte da população para as cidades mais próximas. “O êxodo diminuiu bastante depois da criação dos programas de ajuda social do governo federal, mas nós queremos é que a comunidade tenha como viver em sua própria terra, preservando suas raízes, sua cultura com dignidade e tendo assegurados direitos básicos como educação, saúde e alimentação”, afirma Ilta Costa Araújo, única moradora de Lages dos Negros a ter um diploma universitário.

SITUAÇÃO – No Brasil, até hoje, foram identificadas, oficialmente, 743 Comunidades Remanescentes de Quilombos, 42 reconhecidas e 29 tituladas.

Na Bahia, em situação fundiária completamente regularizada, segundo a Fundação Cultural Palmares, a Comunidade de Rio das Rãs, na região de Bom Jesus da Lapa, com experiência e em organização política; a Comunidade de Mangal e Barro Vermelho no Sítio do Mato, com uma área de 7.615,16 hectares e 295 habitantes; e as comunidades de Bananal, Barra e Riacho das Pedras, na região de Rio das Contas.

Certificadas, em processo de regularização fundiária e em situação de conflito, estão as comunidades de Pau dArco e Parateca, na região de Malhada, próximo a Bom Jesus da Lapa.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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