Terreiro de candomblé é invadido pela segunda vez por traficantes em Nova Iguaçu
Um terreiro de candomblé foi invadido pela segunda vez por traficantes em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O espaço foi invadido na última segunda-feira, dois anos após ter sido depredado e ter ficado fechado por três meses por ordem de criminosos. Vizinhos relataram que os invasores disseram que o imóvel agora é o “quartel-general” do tráfico.
Um membro do terreiro, que pediu para não ser identificado, contou que quatro homens pularam o muro do templo, por volta das 18 horas de segunda-feira, e arrancaram as câmeras de segurança. Em seguida, eles teriam começado um quebra-quebra.
— Os vizinhos disseram que ouviam barulho de coisas caindo no chão e eles falando: “quebra, quebra tudo. Agora é tudo nosso. Vai ser o quartel-general” — relatou o religioso.
É a segunda vez que o espaço, localizado no bairro Ambaí, é invadido por traficantes. Em setembro de 2017, um grupo de criminosos entrou no templo e quebrou boa parte dos assentamentos de orixás, considerados os itens sagrados mais importantes nos terreiros de candomblé. À época, filhos de santo chegaram a conversar com um líder do tráfico local e conseguiram convencê-lo a permitir a retirada dos objetos restantes.
Depois de três meses funcionando em outro espaço, a comunidade religiosa recebeu autorização do tráfico para retornar ao endereço, mas foi proibida de realizar festas públicas. Segundo um religioso, a investigação nunca foi concluída.
Além do barracão, onde são celebrados os ritos sagrados, o terreno de 1.200 m² também possui mais de vinte quartos de santo e uma casa, que é utilizada pelos membros do terreiro durante as funções religiosas. Um filho de santo contou que o babalorixá que lidera a comunidade não conseguiu recuperar nem mesmo os documentos do imóvel.
— Tudo está lá dentro: escritura, comprovantes de pagamento de IPTU, fora os eletrodomésticos e móveis. Pelos relatos dos vizinhos, os itens sagrados foram novamente destruídos, mas queríamos recuperar pelo menos a documentação — disse.
A ocorrência foi registrada na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) como violação de domicílio, constrangimento ilegal, dano e furto, além de ser enquadrada no artigo 20 da Lei Caó, que trata da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A Polícia Civil informou que dilligências estão sendo realizadas para apurar as circunstâncias do fato e que as investigações estão em andamento.
*Estagiário sob supervisão de Leonardo Cazes
FONTE: Jornal Extra em 28/03/2019