UM POUCO DE HISTÓRIA: Tráfico Negreiro
Por Daniela Yabeta
Resultado da expansão marítima portuguesa, o tráfico de escravos foi realizado com as bênçãos da Igreja e do Papa desde o século XV. O cativeiro dos negros, infiéis e pagãos, era autorizado como meio de convertê-los ao cristianismo.
Não se sabe exatamente o volume de africanos levados ao Brasil, mas sabe-se que o maior volume de entrada de escravos ocorreu na primeira metade do século XIX. As estimativas, porém, incluem somente o número de cativos que desembarcaram em terras brasileiras, sem levar em conta os que morreram durante a travessia do Atlântico. Em torno de 40% dos negros capturados no interior da África morriam a caminho do porto, e mais 10% a 20% durante a estadia nos barracões do litoral. Aos que conseguiam embarcar as chances de morrer dentro dos navios negreiros estavam diretamente relacionadas à duração da viagem, o que dava ao Brasil condições mais favoráveis do que a outras regiões da América, como o Caribe e a América do Norte, devido à proximidade com os portos africanos.
Os principais portos de desembarque brasileiros foram Belém (PA), São Luís (MA), Recife (PE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP). Nos séculos XVI e XVII, o destino dos escravos era, na maioria das vezes, a região litorânea, mais precisamente a zona canavieira. No século XVIII, a mineração atraiu grande parte dos escravos e o Rio de Janeiro se tornou o maior entreposto escravista e principal fornecedor de escravos para Minas Gerais.
O preço dos escravos oscilou muito durante o período escravista. No início do século XVII, o preço dos homens e mulheres não apresentava diferenças significativas, mas, com o passar do tempo, os homens tornaram-se mais caros. Esta preferência por homens no tráfico pode ser atribuída basicamente a dois fatores: 1) a tendência de se venderem as mulheres ainda na África, para os próprios africanos, principalmente muçulmanos; 2) o fato de os fazendeiros, no Brasil, preferirem homens plenamente produtivos. Como a idade e o estado físico também influenciavam na variação do preço, os homens saudáveis entre 19 e 35 anos eram os mais caros.
As críticas à escravidão sempre denunciaram, com razão, as atrocidades cometidas contra os negros por parte de uma Europa mercantilista, mas acabaram por fazer silêncio sobre a participação dos próprios africanos no tráfico. A partir da década de 1990, porém, os historiadores começaram a lançar luz sobre essa participação, ao estudarem as dinâmicas internas que levavam as próprias sociedades africanas a fornecerem escravos para os comerciantes europeus.
No final do século XVIII, o tráfico negreiro começou a sofrer críticas de abolicionistas europeus, mas foi no início do século XIX que a Inglaterra, movida por seus próprios interesses financeiros, aumentou a pressão para limitar o comércio escravista. Com a independência, o então império brasileiro decretou a primeira lei de abolição ao tráfico, em 1831, que na prática obteve pouco resultado. Somente em 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, o tráfico negreiro foi abolido efetivamente, precipitando a crise do escravismo no Brasil.
Fontes Bibliográficas: Em costas negras, de M.G. Florentino. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995. Dicionário do Brasil Colonial, Ronaldo Vainfas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 6, n. 27, jan./fev. 2007