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UM POUCO DE HISTÓRIA: O Quilombismo

A palavra “quilombo” originalmente se refere a um local onde se abrigavam negros fugidos, ainda no período da escravidão. Mas há alguns anos essa palavra vem ganhando novos significados. O líder comunista Astrogildo Pereira, ainda em 1929, teria sido o primeiro a dar um novo sentido à palavra quilombo, associando a histórica luta de Palmares à luta de classes. Anos depois, em 1944, Edson Carneiro escreveu o livro “O Quilombo de Palmares”, que foi dedicado a Astrogildo Pereira, usando o “quilombo” para falar da resistência ao governo Getúlio Vargas. O tema “Quilombo” começava a ganhar novos significados, mas ainda não estava vinculado a uma questão propriamente racial.

Somente no final da década de 70 e início de 80, o “quilombo” passa a ser utilizado como símbolo da resistência negra. Em 1980, Abdias Nascimento publicou o livro “O Quilombismo”, buscando definir justamente o novo papel político que o termo histórico quilombo deveria receber. Para ele, “quilombismo” é toda forma de resistência física e cultural da população negra, tenha ela sido criada na forma de grupos fugidos para o interior das matas na época da escravidão ou, em um sentido bastante ampliado, na forma de todo e qualquer grupo tolerado pela ordem dominante, em função de suas declaradas finalidades religiosas, recreativas, beneficentes, esportivas etc. Todos esses grupos teriam uma importante função social para a comunidade negra em geral já que sustentariam a continuidade da tradição africana como verdadeiros focos de resistência física e cultural. Para esse autor, todos foram e são quilombos, ainda que legalizados pela sociedade dominante.

De acordo com Abdias Nascimento, “o quilombismo é um movimento político dos negros brasileiros”. Ele propõe que o quilombismo seja adotado como um projeto de “revolução não violenta” da população negra brasileira com o objetivo de criar uma nova sociedade, o “Estado Nacional Quilombista”. Para Abdias o “comunitarismo da tradição africana” unificaria os diversos níveis de vida e todos os meios de produção seriam de propriedade coletiva, com vistas a assegurar a realização completa do ser humano.

Para esse autor o “quilombismo não significa escravo fugido. Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial”.

Em 1988, o artigo 68 da Constituição Federal passou a reconhecer os direitos territoriais das comunidades remanescentes de quilombos. Nesse caso também o “quilombo” tem outro significado. As comunidades assim intituladas não são somente aquelas que tiveram origem, de fato, em antigos quilombos mas também aquelas que resultaram da compra de terras por negros libertos; da posse pacífica de terras abandonadas pelos proprietários; da ocupação e administração das terras doadas aos santos padroeiros, etc. “Remanescentes de Quilombos” são, enfim, segundo seu uso contemporâneo, todas as comunidades negras rurais mobilizadas pela legalização de suas formas de uso comum da terra.

PARA SABER MAIS LEIA
“O Quilombismo”, de Abdias Nascimento publicado pela editora Vozes, 1980.

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 1, n. 2, mar. 2001

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