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Quilombolas aumentam rendimento com venda de banana orgânica

 

Sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e dos morros ao redor, os participantes da Associação Quilombo Ivaporunduva, no município paulista de Eldorado, no Vale do Ribeira, estão expandindo os horizontes com a produção e venda de banana orgânica para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). 
 
Uma das estratégias do Plano Brasil Sem Miséria para superar a extrema pobreza no campo, o PAA teve impacto positivo no preço da caixa de banana, que girava entre R$ 0,50 e R$ 1,50, muito abaixo da cotação de mercado. Com o programa, a caixa do produto é vendida atualmente por R$ 13. Até os compradores avulsos pagam hoje cerca de R$ 8 pela caixa da fruta. 
 
A comunidade quilombola Ivaporunduva integra o grupo de associações e cooperativas que representam agricultores familiares e vendem a produção ao governo. “Eles fornecem ao PAA uma média de seis toneladas por semana”, diz o gerente do programa pela Companhia Nacional de Alimentos (Conab), em São Paulo, Nivaldo Maia. A Conab e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) são parceiros na execução do programa. 
 
Os alimentos comprados pelo governo federal são distribuídos para restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos, hospitais, creches e escolas. Também vão para famílias em situação de vulnerabilidade social e servem ainda como estoque regulador. 
 
Preço de mercado – Ao comprar a produção dos pequenos agricultores extremamente pobres, o governo federal paga preço de mercado e gera renda para pessoas que tinham como única oportunidade vender a produção por quase nada ou apenas viver de lavouras de subsistência. 
 
Desde 2010, o MDS e o MDA estimulam a maior participação de áreas quilombolas e indígenas como estratégia para retirar essas populações da pobreza. Em 2011, comunidades quilombolas da Bahia, de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, do Pará, da Paraíba, de Pernambuco, do Paraná e de São Paulo venderam 2,2 mil toneladas ao PAA e receberam R$ 3,3 milhões. 
 
A história de exclusão dos moradores de Ivaporunduva – município de 14.641 habitantes localizado a 248 quilômetros de São Paulo – começou a mudar em 2005, com a compra de alimentos pelo PAA. Em 2011, 40 agricultores venderam a produção. A expectativa para este ano é chegar a 65. “Melhorou muito. Tem a pessoa certa pra vender. Tem o dia certo pra vender”, assinala Zélia Forquim dos Santos Silva, mãe de 12 filhos. Além da banana, a família de Zélia produz milho e feijão. 
 
Na casa da produtora Neire Alves da Silva até a fibra da bananeira é aproveitada. Além de participar do PAA há quatro anos, ela aprendeu a fazer artesanato com a fibra da planta. “O PAA valoriza o trabalho do produtor”, observa Neire. Com a venda da banana, ela equipou a residência com geladeira, televisão e tanquinho. 
 
O progresso da comunidade, que tem a Capela de Nossa Senhora dos Homens Pretos localizada em seu ponto mais alto, pode ser visto pela mudança das casas de taipa para as de alvenaria. 
 
Novos caminhos – Mais organizados para atender às exigências de negócios com o setor público, os quilombolas de Ivaporunduva estão abrindo caminho para outras associações do município de Eldorado, que abriga nove das 16 comunidades de remanescentes de quilombos da região. Uma nova cooperativa está sendo criada e deverá começar a vender ao PAA em 2013. 
 
Além da banana orgânica, eles começaram a vender ao PAA palmito de pupunha e hortaliças. Os moradores descartam o uso de agrotóxico nas plantações e recebem orientação do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp). 
 
Cerca de 150 famílias de cinco comunidades participam do processo de venda para a Conab. “Se esse pacote que o governo lançou chegar junto em todas as comunidades, vai ser impactante”, reforça o coordenador da Associação de Ivaporunduva, Paulo Sílvio Pupo, referindo-se ao Plano Brasil Sem Miséria. 
 
A expectativa da Conab é dobrar o volume de compra de banana pelo PAA das comunidades de Eldorado. Nivaldo Maia acertou a participação da associação na chamada pública para venda de banana destinada à merenda escolar do município de Embu (SP). Serão mais seis toneladas por semana. 
 
Patrícia França da Rosa começou neste ano a vender hortaliças e pretende ampliar a casa de dois quartos para abrigar os cinco filhos e o casal. Antes da participação no PAA, a renda da família se resumia aos benefícios do Programa Bolsa Família, do governo federal, e do Renda Cidadã, do governo paulista. 
 
Ensino para os filhos – Assim como a novata Patrícia, Valni de França Dias garantiu a educação dos oito filhos com a venda, desde 2004, de pupunha, salsa, cebola, alface e couve para o PAA. Ela destaca a importância do programa de aquisição de alimentos na geração de renda: “A gente não tinha mercado, o que sobrava, era perdido.” 
 
Marido de Valni e vice-presidente da Associação dos Remanescentes do Quilombo de São Pedro, Aurico Dias revela que os 25 produtores entregam 700 quilos de hortaliças e palmito por semana. A produção vai direto para a merenda escolar de Eldorado. 
 
A educação dos filhos sempre foi uma prioridade para a família França Dias. Valni conta com orgulho que todos estudaram pelo menos até o ensino médio. “Meu filho mais velho saia às quatro da manhã, andava de balsa e ônibus para chegar à escola. Só voltava às três da tarde, mas hoje é professor de inglês e português.” 
 
A família paga R$ 300 para a filha mais nova cursar administração em uma faculdade particular. A casa de Valni tem conforto como o tanquinho para lavagem de roupa. Aos 49 anos, seu marido voltou para a escola com o objetivo de terminar o ensino médio. (Roseli Garcia/Ascom-MDS)
 

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