Índios e quilombolas traídos por políticos
Rede aumenta apoio a índios e quilombolas, traídos por políticos
Traídos pela quase totalidade dos políticos e abandonados pelo governo, os índios e quilombolas contarão com um apoio ainda mais efetivo da Rede Alerta Contra o Deserto Verde em 2007. A estratégia a ser seguida será discutida no início de janeiro, mas será respeitada por princípio a decisão dos quilombolas e dos índios de priorizar a luta pela recuperação de suas terras.Valmir Noventa, um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Espírito Santo e representante do movimento na Rede Alerta, avaliou nesta terça-feira (26) o atual estágio da luta dos índios e dos quilombolas por suas terras.
A Rede Alerta contra o Deserto Verde é formada por mais de cem entidades da sociedade civil. É composta por entidades, movimentos, comunidades locais, sindicatos, igrejas e cidadãos, dos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro preocupados com a contínua expansão das plantações de eucalipto na sua região, assim como a venda de créditos de carbono.
Lembrou o coordenador do MPA que a Via Campesina, da qual fazem parte o MPA e o MST, e a Rede Alerta Contra o Deserto Verde têm estado com os índios e quilombolas. Mas que, face ao abandono destes dois segmentos pelos políticos, pelos governos federal e estadual e por outras forças, terão que dar apoio ainda mais efetivo aos quilombolas e índios.
As classes camponesas e operárias respeitam a decisão dos índios e quilombolas, que têm a recuperação de suas terras como meta número um. Temos clareza da importância das terras para estes grupos, diz Valmir Noventa.
Apesar do apoio da classe operária, há traição aos índios por alguns sindicatos de trabalhadores, como o Sinticel e o Sintiema, cujos representantes apóiam a Aracruz Celulose, principal algoz dos índios e também dos quilombolas. Sobre os sindicatos, Valmir Noventa diz que eles fazem o papel da burguesia.O dirigente do MPA lista nominalmente os políticos que apóiam a luta dos índios e dos quilombolas no Estado: a deputada federal Iriny Lopes e os deputados Carlos Casteglione e Ricardo Vereza, todos do PT. Ao contrário de parlamentares como o deputado federal e senador eleito Renato Casagrande (PSB). Valmir Noventa lembra que o financiamento da campanha eleitoral de Casagrande foi feito em boa parte pela Aracruz Celulose.Talvez por isso, Renato Casagrande nunca assumiu a causa indígena, diz Valmir Noventa. Ele lembra que o senador eleito foi expressivamente apoiado pela classe trabalhadora e que sua posição em defesa da Aracruz Celulose é uma decepção.
A decepção do líder camponês também é grande em relação aos órgãos do Estado e do governo federal. Cita que órgãos do governo estadual, como o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) têm mostrado ao longo do tempo que defendem o interesse do agronegócio, contra o interesse da classe camponesa. Em relação ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsável por promover a devolução dos territórios quilombolas, Valmir Noventa destaca que alguns de seus técnicos vêm cumprindo o seu papel.
O governo federal vem se omitindo quanto à devolução das terras tomadas pela Aracruz Celulose aos índios. Desta forma, o governo foge de suas responsabilidades, considerando que seus órgãos, como a Fundação Nacional dos Índios (Funai), reconhecem que a Aracruz Celulose ocupa e explora há quase quatro décadas 11.009 hectares de terras indígenas.
Valmir Noventa critica também o Judiciário: lá os processos ficam emperrados e, quando vêm as decisões, elas são desfavoráveis às classes trabalhadoras. Questiona a demora no julgamento no caso dos índios como forma de vencer as comunidades pelo cansaço; ou pelo poder da Aracruz Celulose; ou, ainda, por dúvida ante o fato de que as comunidades são realmente indígenas.
O governo federal não cumpre o seu poder de decidir. E a estratégia das grandes empresas, como a Aracruz Celulose, é atuar nos gabinetes dos palácios. A nossa estratégia tem de ser diferente: devemos mostrar ao conjunto da sociedade civil que a luta dos quilombolas e dos índios não só é justa, como também deve ser uma luta de todos. Que temos de tomar parte na luta. Afirma Valmir Noventa: A sociedade civil não deve esperar nada dos políticos e dos governos. Historicamente o Estado é burguês e serve à classe dominante. Os trabalhadores têm consciência de que sem luta os direitos dos índios e quilombolas jamais serão respeitados.A Aracruz Celulose ocupou no total 40 mil hectares de terras dos povos Tupinikim e Guarani, mas o governo reconhece como indígenas 18.070 hectares, dos quais a empresa mantêm a ocupação de 11.009 hectares. A transnacional é a principal ocupante de 50 mil hectares do território quilombola. Ocupou ainda terras devolutas, que são públicas e que por lei têm de ter destinação social.
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