• (21) 3042-6445
  • comunica@koinonia.org.br
  • Rua Santo Amaro, 129 - RJ

Comunidade quilombola admite valer a pena ficar no campo

Quando se trata de jovens, as famílias rurais vivem duas situações distintas. Uma bem conhecida é aquela em que os pais mandam os “meninos para viverem na cidade grande para melhorar a vida”. A outra, menos difundida, é aquela em que eles conseguem manter os filhos no campo ao envolvê-los na agricultura familiar. A comunidade quilombola de Filipa, em Itapecuru-Mirim, está mostrando isso aos jovens: que vale a pena ficar no campo. No ano passado a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado (Seagro), por meio da Casa de Agricultura Familiar (CAF) do município, implantou um projeto de piscicultura, junto aos jovens, que já vem apresentando bons resultados. Ações nesse sentido oferecem ferramentas para que os jovens busquem alternativas rentáveis, vivam com dignidade e não vejam mais a emigração como a única alternativa. Para o secretário da Agricultura, José Lemos, quando os jovens vivem com dignidade, com certeza não trocam o campo pela cidade. “Se eles encontrarem condições de se educarem no campo, de receberem informação e condições de trabalhar, de ter renda, de viver com dignidade, eles seguramente não irão emigrar, não irão sair”.

O projeto foi financiado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A intenção é produzir, em 11 açudes, cerca de 6000 kg de pescado, das espécies tilápia e tambaqui, que posteriormente serão vendidos nas feiras, a cinco reais o quilo. A criação e comercialização dos peixes, além de gerar renda, está enriquecendo a alimentação dos moradores de Filipa, que hoje possui cerca de 35 famílias descendentes de africanos, vivendo basicamente da agricultura familiar.

“Filipa já foi beneficiada com outros projetos que também estão gerando renda e diminuindo a pobreza da comunidade. Entre eles: uma casa de farinha, rede de distribuição d’água e melhoria habitacional, com a construção de 29 moradias”, listou o superintendente do Nepe, Antônio Gualhardo Prazeres. Todos financiados pelo Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR) – hoje, substituído pelo Prodim, coordenado pela superintendência do Núcleo Estadual de Programas Especiais da Seagro (Nepe). Agora é a vez dos jovens buscarem melhores condições de vida.

A renda gerada com o projeto de peixes está servindo inicialmente para pagar o financiamento, e daqui a algum tempo, será distribuída entre os jovens produtores. E vale ressaltar que a alternativa de permanecer no campo, trabalhando e ajudando na renda familiar, surgiu dos próprios jovens que solicitaram a implantação do projeto junto à CAF. Hoje, são quase 30, com idades entre 17 e 25 anos, envolvidos no projeto e que fazem parte da Associação de Juventude Rural do Quilombo Filipa.

O gestor da CAF de Itapecuru-Mirim, Jerônimo Antônio Mendes, afirmou que muitos jovens quando passam um tempo fora e voltam depois para a comunidade, não querem adentrar na agricultura, especialmente no cultivo da terra. Eles buscam alternativas; uma renda externa a que os pais viveram o tempo todo. Para ele, o projeto dos jovens de Filipa merece destaque, pois eles assumiram a responsabilidade de praticar a agricultura familiar.

O presidente da Associação de Juventude Rural, Leandro Pinto Silva, de 23 anos, defende que ainda é possível viver bem no campo. “Com a renda da criação de peixes a gente não precisa ir para a cidade para melhorar de vida como já fizeram outros”. O jovem quilombola ressaltou ainda o sucesso do projeto de piscicultura. “Depois da nossa iniciativa, a Associação dos Produtores Rurais do Povoado de Filipa decidiu aproveitar a idéia e colocar para frente também a criação de peixes”.

O presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Itapecuru, Justo Evangelista Conceição, acredita que, quando os jovens conseguem trabalho e renda no campo, eles vêem um futuro mais promissor. “Se tem renda pro jovem ele vai ficando no campo, vai aprendendo e ensinando. Assim, eles não ficam ociosos” comentou Justo Evangelista. Entretanto, quando os filhos não conseguem êxito na vida rural, os pais acreditam que a solução está na ida para a grande cidade.De acordo com o secretário José Lemos, entre 1994 e 2001, aproximadamente 1 milhão de maranhenses, a maior parte da zona rural, saíram do Estado porque ficaram sem condições de fazer algo no setor rural. A partir de 2002 é que o Estado começou a criar condições na agricultura familiar para que as pessoas produzissem e vivessem com dignidade nas zonas rurais.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo