RS – Quilombolas são redescobertos no Interior
Pesquisa realizada em áreas rurais de 27 municípios revela como vivem 42 comunidades descendentes de escravos
A realidade de 42 comunidades quilombolas existentes há pelo menos cem anos no mesmo local começa a ser desvendada no Rio Grande do Sul.Um estudo do governo estadual que mapeou e investigou a vida de 1,4 mil famílias de descendentes de escravos foi apresentado em um seminário realizado na Assembléia Legislativa.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Programa RS Rural em áreas rurais de 27 municípios no ano passado. Até 2004, apenas sete lugares eram reconhecidos oficialmente pela presença de remanescentes. Pesquisadores estimam que pelo menos outras 27 comunidades ainda não foram identificadas.
– Há grande concentração de descendentes na Metade Sul. A maioria vive em áreas serranas onde o solo é de pior qualidade e tem dificuldades para se manter. Continuam excluídos, mas queremos reverter o processo – diz o secretário executivo do programa, Jair Seidel.
No levantamento, constatou-se que mais de 90% dos entrevistados sobrevivem de aposentadorias ou trabalham como diaristas e peões sem renda fixa. Apesar do anseio de trabalhar como autônomos, continuam empregados, pois dispõem de menos de três hectares de área cultivável na maioria dos casos. Quase 52% têm esgoto a céu aberto, e 60,3% utilizam água de poço.
– Muitos vivem sem energia elétrica, infra-estrutura e saneamento básico. Não encontramos apenas pobreza. Há a preservação da época da escravidão por meio de causos e lugares conhecidos da memória coletiva – afirma a antropóloga e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Noroeste do Estado (Unijuí) Rosane Rupert, que lançou em 10 de maio o livro Comunidades Negras Rurais do Rio Grande do Sul: um Levantamento Socioantropológico Preliminar.
Em agosto, a antropóloga pretende aprofundar a pesquisa. O diagnóstico da situação foi obtido por meio de questionários de técnicos da Emater e de visitas de antropólogos. O objetivo do levantamento era localizar quilombolas para direcionar verbas do RS Rural. No total, já foram investidos R$ 4,5 milhões em projetos de infra-estrutura, geração de renda e manejo de recursos naturais nos municípios.
Um acervo fotográfico com 593 imagens, principalmente de tipos humanos, também foi produzido durante o trabalho. O material foi doado pelo secretário de Agricultura, Odacir Klein, ao Museu Antropológico do Rio Grande do Sul.
( marciele.brum@zerohora.com.br )
O levantamento
Principais resultados
Comunidades quilombolas estão localizadas em 27 municípios. Cerca de 1,4 mil famílias de descendentes de escravos receberam R$ 4,5 milhões em investimentos
Perfil dos beneficiados
A maioria mora em áreas doadas por antigos patrões. Geralmente, a comunidade se originou com negros que fugiram de senhores
Mais de 90% das famílias sobrevivem de aposentadorias ou são diaristas e peões sem renda fixa nem vínculo empregatício
A maioria tem menos de três hectares para plantar 51,7% das famílias têm esgoto a céu aberto, e 60,3% utilizam água de poços.