13 de maio – Nada ou pouco a festejar
Coordenadora do Programa Raízes, do governo do Estado, diz que pobreza e discriminação são formas de escravidão que ainda se arrastam desde a Lei Áurea
Pobreza, discriminação e outras mazelas que a população negra brasileira ainda sofre representam um tipo de escravidão que se arrasta desde a assinatura da Lei 3.353, a Lei Áurea, em 1888, pela princesa Isabel, então regente do Brasil. A opinião é de Adelina Braglia, coordenadora técnica do Programa Raízes, do governo do Pará, vinculado à Secretaria de Justiça (Seju), criado em 2000 para atuar na preservação de culturas, de áreas e populações de quilombolas e indígenas em terras paraenses.
Para Adelina, sem direitos constitucionais cumpridos e desprovidos de oportunidades maiores de trabalho e de educação, integrando uma sociedade “que mente ao não se considerar racista”, conforme disse, os negros não têm porquê comemorar o 13 de maio.
“É melhor esperar o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro”, disse a coordenadora, referindo-se à data na qual preserva-se a memória de Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência negra ao escravismo, assassinado num dia como o de hoje, em 1695. Adelina Braglia confessou preferir valorizar a frase de um estudioso do assunto, Hélio Santos, que diz: “O importante não é valorizar o 13 de maio, mas o 14, que não terminou nunca”.
Pesquisa divulgada recentemente em âmbito nacional, recordou ela, apontou que somente 4% da população se consideram racistas, enquanto que 90% dos consultados admitem que há preconceito racial no País. “A liberdade dos negros é questionável por muitos fatores”, analisa Adelina.
“A pobreza tem cor: é negra. Prova disso é que faltam maiores oportunidades no mercado profissional. Por exemplo: quantos gerentes negros de banco você conhece, ou outros que ocupem altos cargos de chefia em grandes empresas?”, questionou. “Eles não estão mais presentes porque são menos inteligentes ou capazes”, defendeu.
Alguns indicativos, no entanto, demonstram que os movimentos em defesa do negro e de outras etnias têm avançado, observou. E dá a prova: no Pará, diz o Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 74% dos habitantes se autodenominaram pretos, pardos e índios, ficando apenas atrás da Bahia e do Maranhão, onde a influência de negros é maior.
O Programa Raízes, nos últimos dois anos, vem dando assistência a diversos programas de produção, estruturação básica e de educação a centenas de comunidades de quilombolas e indígenas. No Estado, há 290 comunidades descendentes de quilombos. O Raízes registra a expedição de 20 títulos de terras, por meio dos quais 70 comunidades foram beneficiadas.