Descendentes de escravos …
Descendentes de escravos refugiados, assim como seus ancestrais, fazem parte da camada mais baixa da escala social, aponta pesquisa
Apesar da produção agrária, quilombolas ainda sofrem com a fome
As 144 comunidades quilombolas do Brasil — formadas por descendentes de
escravos refugiados — vivem, assim como seus ancestrais, na camada mais
baixa da escala social brasileira. O Sicab (Sistema de Informações das
Comunidades Afro-Brasileiras) indica que em 126 (86,11%) comunidades
quilombolas predominam famílias que tinham, em 2003, uma renda de no máximo
dois salários mínimos por mês. Na população brasileira, a proporção é menor:
32,71% dos domicílios vivem nessa faixa de renda, de acordo com a PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2003.
O rendimento dos descendentes de escravos vem sobretudo de transferências de
recursos públicos, como aposentadoria (fonte de renda familiar em 126
comunidades quilombolas, ou 87,50% do total) e programas sociais (48, ou
33,33%). No Brasil, apenas em 73 cidades há mais de 30% da população
dependente de transferências de verbas governamentais. A produção agrícola é
um dos meios de sustento em 87 comunidades quilombolas (60,4%).
O levantamento do governo federal foi feito a partir de um questionário
elaborado pelos Ministério do Desenvolvimento Social, da Agricultura, da
Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Agrário, e também pela Secretaria
Especial para Política de Promoção da Igualdade Racial e pela Fundação
Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura. O resultado deu origem
ao Sicab (Sistema de Informações das Comunidades Afro-Brasileiras), no qual
foram investidos R$ 69 mil. Algumas informações, porém, estão incompletas,
já que nem todas as comunidades dispõem dos dados requisitados no
questionário — das 144 localidades, 20 não sabem, por exemplo, quantas
famílias abrigam.
O Sicab aponta que, apesar de a agricultura ser a atividade principal de boa
parte das comunidades, 129 locais abrigam pessoas que passam fome — em 27, a
fome atinge todas as pessoas da comunidade e em 55, a grande maioria. O
problema é atribuído à insuficiência da produção local para garantir a
alimentação da população. Em 188 comunidades (81,94%), o grupo mais atingido
são as crianças.
O sistema também reúne dados sobre educação, criação de animais e pesca,
cultura, direitos do cidadão, fontes de alimentos, população, meio ambiente,
programas sociais, saúde e caracterização da terra.