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SP – Violência policial

Rubens Rodrigues de Lima já havia dito aos dois filhos: negros são sempre mais visados nas batidas policiais. Na noite de 21 de outubro de 2001, o comerciante, negro, viu seu filho de 16 anos ser abordado por policiais quando comprava um lanche na rua, num conjunto habitacional em Vila Maria, Zona Norte paulistana. Um policial empurrou o garoto e atingiu-o com a coronhada do revólver. Rubens foi defender o filho.
— O policial me pegou pelo pescoço, encostou o revólver na minha cabeça e disse que ia me dar um tiro. Baixou a arma e atirou.
O tiro provocou uma fratura exposta na perna direita do comerciante. Levado para o hospital e submetido a duas cirurgias, Rubens ficou com a perna semiparalisada. O caso foi encaminhado ao Movimento Nacional de Direitos Humanos, e Rubens, hoje com 36 anos, resolveu processar o policial que o agrediu.
— Pegaram meu filho e disseram: “Encosta aí na parede, neguinho”. A violência não é só contra o negro, mas a gente é que sabe o que vive.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Hédio Silva Júnior, diz que os dados da pesquisa reafirmam a necessidade de uma política para deter o avanço das mortes violentas entre jovens — principalmente negros. Ele afirma que, das denúncias de violência que recebe, 60% têm como vítimas o jovem negro e pobre. E que, na maioria das vezes, o Estado aparece com principal agente da violência.
— A morte do negro é sempre encarada de forma desimportante, como se fosse uma coisa menor para a sociedade. É como se o algoz tivesse certeza da impunidade.
Silva Júnior cita como caso emblemático de racismo da polícia o do dentista negro Flávio Santana, morto por policiais militares em fevereiro, depois de ser confundido com um assaltante. Os policiais mataram o dentista com dois tiros e ainda tentaram fraudar a cena do crime, pondo um revólver em suas mãos. A irmã do dentista, Marinela Santana, cabeleireira, virou alvo de ameaças e tentativas anônimas de intimidação no bairro em que mora por cobrar justiça para o caso. Três dos sete policiais envolvidos na morte de Flávio estão presos. Os outros quatro aguardam julgamento em liberdade.
O coordenador do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde, Luiz Antônio Nolasco, disse que o objetivo do governo com a pesquisa foi obter evidências sobre a diferença nos indicadores de saúde e mortalidade entre negros e brancos. Os dados, informa ele, estão sendo analisados e já serviram de ponto de partida para estratégias de combate ao problema.
Nolasco reconhece que a mudança não virá a curto prazo e que, na saúde, a discussão não passa — ao contrário do ocorre na educação — por uma política de cotas. A idéia é fazer o que Nolasco chama de “discussão transversal”, ou seja, incluir o debate sobre negros em todas as políticas de saúde. Para grupos específicos, como os remanescentes de quilombos, estão sendo pensadas estratégias particulares. Nolasco diz também que os órgãos do governo tentam parcerias sobre o tema:

Veja a questão da violência, por exemplo. Os negros são vítimas preferenciais, mas de onde vem a violência? Não é uma questão só da saúde, é uma questão do país.

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