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RJ – Uma nova era para quilombo

Descendentes de escravos de Quatis estão sendo alfabetizados, farão cursos profissionalizantes e terão feira para vender produtos.
O Quilombo de Santana fica a 12 quilômetros do Centro de Quatis, mas as dificuldades que a comunidade enfrenta aumentam a distância entre ela e o restante da região. Numa área de difícil acesso, a vila sobrevive de doações. Apenas um dos 60 adultos em idade produtiva tem emprego fixo.
Para tentar mudar a situação, o Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento (CAD), vai oferecer cursos aos moradores da localidade. Batizado de Semeando Progresso-Autonomia Verde Amarela, o projeto, financiado pela Inter-American Foundation (IAF), vai ensinar a homens e mulheres do Quilombo de Santana como trabalhar com construção civil e agricultura.
As aulas começam em setembro e vão até novembro. “Nossa intenção é preparar a comunidade para caminhar com as próprias pernas”, explicou a gerente-executiva do Sesi/Senai de Resende, Ross Helena da Cunha.
Nos cursos, os moradores vão aprender os ofícios de pedreiro, carpinteiro, bombeiro hidráulico e eletricista. Além disso, terão acesso a técnicas de plantio, colheita, armazenagem, moagem e comercialização de milho e seus derivados, como o fubá.
A produção será vendida na feira da roça, que é realizada uma vez por mês em Quatis, e no Sacolão Eldorado. O excedente será comprado pela Petrobras, para ser destinado ao Programa Fome Zero.
Animados com o início dos cursos, os descendentes de escravos contam que, pela primeira vez, sentem que a vida pode melhorar. “Não queremos depender de doações para sempre. Queremos aprender a pescar para garantir, com dignidade, o sustento das nossas famílias”, afirma o líder, Miguel Francisco da Silva, 40 anos.
Desempregado e pai de quatro filhos, ele planeja se matricular nas aulas de pedreiro. “Vou construir minha casa e ajudar as outras famílias do quilombo”, explica.
‘é como ser cega e passar a enxergar’
A dona-de-casa Olga Maria de Jesus Moreira, 51 anos, nunca havia pisado numa sala de aula. Começou a trabalhar na roça quando era criança e, aos 19 anos, casou-se. Como não sabia ler nem escrever, tinha dificuldade para pegar ônibus ou mesmo fazer compras.
Decidiu se inscrever no curso de alfabetização de adultos que o Sesi promoveu no quilombo. No dia 13, ela estava entre os 26 formandos da turma. “Era como se eu fosse cega e começasse a enxergar”, definiu Olga Maria.
Ela recorda o dia em que estava em Barra Mansa e, em vez de pegar um ônibus para Quatis, quase foi parar em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio. “Não passo mais por isso”, diz Olga, que vive no quilombo há 37 anos.
Várias séries na mesma turma
A comunidade de Santana, fundada 1837 por escravos, tem hoje 97 moradores. Vinte e três são crianças e adolescentes e 14 têm mais de 50 anos. A única escola no quilombo, da prefeitura, oferece apenas até a quarta série do Ensino Fundamental.
Como o número de alunos é pequeno, as turmas são mistas, com estudantes de mais de uma série. Quando termina a quarta série, o estudantes tem como opção estudar no distrito de São Joaquim, a 12 quilômetros do quilombo.
As casas são muito simples, como os moradores. Uma das relíquias é a Igreja de Santana, construída na época da criação do quilombo. As peças mais valiosas e a própria imagem da santa foram retiradas do local, para não atrair ladrões. Nos fundos da igreja, está o túmulo do Barão de Cajuru, morto em 1869, que era dono da terra.

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