Quilombola de Curiaú informa comunidade com jornal artesanal
A comunidade quilombola Curiaú, na Zona Norte de Macapá, é informada mensalmente pelo Jornal do Quilombo, uma publicação produzida há 10 anos por Sebastião Menezes da Silva. Por meio do jornal Sabá Curió, como é conhecido, registra os principais fatos que envolvem a sua comunidade. Fatos que vão de depoimentos de personalidades – como registro da história oral – a denúncias e conquistas coletivas.
Agricultor, Sabá Curió estudou até a 5ª série do Ensino Fundamental, mas a pouca escolaridade não o inibiu do prazer de escrever e de transmitir conhecimentos. “Na minha época, dificilmente uma pessoa conseguia avançar nos estudos e, devido as dificuldades, era necessário dar mais atenção ao trabalho. Mas tudo é ensinamento e, hoje, eu quero que os jovens vejam a vida diferente também, assim como eu vi”, conta.
Para Sabá Curió, escrever sempre foi uma necessidade. Ao longo de 19 anos ele publicou 124 edições do Jornal do Quilombo e três livros – Curiaú: a marca de uma geração, Curiaú: sua vida e sua história e Curiaú: resistência de um povo – para registrar as verdades, as riquezas e belezas do quilombo. “Mesmo numa comunidade pequena, as pessoas precisam estar bem informadas”, pontua.
O poder da informação – O Jornal do Quilombo mudou a rotina da comunidade, garantiu o resgate da paz e avanços importantes. “Depois do Jornal a segurança melhorou. Ninguém mais quis ser exposto fazendo coisa errada”, conta orgulhosamente Sabá Curió. As pessoas se envolveram mais e, inspiradas, desejaram contribuir com as informações, fazer impressões. As notícias são escritas por ele, uma amiga digita e a impressão é feita em papel A4.
A distribuição dos exemplares é feita de bicicleta. Sabá Curió passa de porta em porta entregando em mãos, inclusive nos órgãos públicos. Segundo ele, o noticiário virou paixão e há quem colecione as peças. “Divulgar é algo que eu gosto de fazer. Eu não tive infância e desde criança me preocupo com os mais velhos, com o que eles têm para ensinar. A prendi a ouvir e a escrever o que eles falam. São referência para as gerações que ficam”, explica.
Sebastião, Sabá Curió – Casado, Sebastião sustentou e garantiu a formação de seus três filhos com o dinheiro adquirido na lida da roça: dois na área de Medicina e um na de Recursos Humanos. “Curiaú é tradicionalmente rural, mas é uma comunidade com muita gente formada no Ensino Superior. Meus filhos todos estão bem encaminhados”, diz, satisfeito com o resultado de sua dedicação.
Com o dever cumprido, passou a dividir o trabalho da roça com o prazer de escrever. O homem que teve de trabalhar muito cedo para sustentar a família, se alegra em ver a história da comunidade chegar a mais pessoas. Hoje, Sabá é constantemente convidado a dar palestras e a participar de rodas de conversa nas escolas e órgãos locais. Inspiração entre as famílias do quilombo, o mestre de saber com o dom de comunicar prepara a próxima edição de seu legado pensando uma sociedade cada vez melhor para se viver.
FONTE: Fundação Cultural Palmares em 12/07/2019