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Povos da floresta dão recado ao governo Bolsonaro em campanha

“Vamos seguir resistindo” alertam indígenas e populações tradicionais em campanha da Instituto Socioambiental (ISA)

25 lideranças de povos indígenas e populações tradicionais na floresta

Crédito: Divulgação / ISAA campanha é protagonizada por 25 lideranças, entre jovens, mulheres, pajés, caciques e xamãs

 

“Vamos seguir resistindo”. Essa é uma das principais mensagens da campanha #PovosDaFloresta, lançada nesta segunda-feira, 22, pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, que resistem diariamente aos ataques contra seus direitos e à destruição de seus territórios.

O recado de resistência é direcionado ao governo Bolsonaro, aos políticos e aos empresários. A ação da ONG também pede o apoio das pessoas na luta pela proteção do patrimônio ambiental brasileiro e em defesa dos direitos dos povos indígenas e populações tradicionais.

A campanha é protagonizada por 25 lideranças — entre jovens, mulheres, pajés, caciques e xamãs — de nove povos indígenas da Amazônia, comunidades quilombolas do Vale do Ribeira (SP) e ribeirinhas da Terra do Meio, no Pará.

A ideia do #PovosDaFloresta é valorizar a diversidade de populações que vive e protege as florestas e lembrar que são as florestas que regulam o clima, produzem a chuva para a agricultura e abrigam a maior biodiversidade do planeta.

“Nós povos da floresta somos uma comunidade global de pessoas e é muito importante estarmos juntos em aliança. Assim ficamos mais fortes para enfrentar os ‘brancos’ que estão nos cercando”, afirma Davi Kopenawa, liderança e grande xamã do povo yanomami, um dos protagonistas da campanha. “A sociedade não-indígena não nos conhece e essa campanha do ISA vai levar nossa palavra até ela”, completa Davi Kopenawa.

A iniciativa marca o aniversário de 25 anos do ISA e é uma resposta da organização e seus parceiros históricos aos retrocessos, desmanches e violações da Constituição, nas políticas socioambientais e na garantia dos direitos humanos que estão em andamento no Brasil.

“Se a floresta, ou a natureza de maneira geral, é nosso passaporte, enquanto país, para algum futuro, os povos que vivem nela são seus verdadeiros guardiões”, diz André Villas-Bôas, secretário-executivo do ISA. “Temos que valorizar a enorme contribuição destas comunidades para o equilíbrio ecológico do planeta”.

 

Quem é quem na Campanha #Povos da Floresta

Costa Silva, 52 anos, beiradeiro da Terra do Meio (PA)

Lutou toda a vida contra a grilagem de terras da Terra do Meio, no Pará, e batalhou pela criação da Reserva Extrativista Rio Xingu. Ameaçado de morte, teve que ficar alguns anos longe de sua terra. Planta cacau, coleta castanha e vive da roça, pesca e produção artesanal de móveis de madeira caída.

Diane Ferreira Barbosa, 39 anos, do povo Arara

Casada com Herculano Costa Silva, tem dois filhos criados na comunidade Volta da Pedra (PA), na Reserva Extrativista Rio Xingu. Dedicou-se aos cuidados dos filhos, cultivo da roça e outras atividades produtivas, como o feitio de farinha, pesca e caça.

Herick Barbosa Silva, 19 anos, beiradeiro da Terra do Meio (PA)

Filho de Herculano e Diane, é pescador, artesão e pesquisador na Reserva Extrativista do Rio Xingu. Prepara a publicação de seu primeiro livro, sonha em estudar medicina e lutar pela saúde dos povos da floresta.

Wonka Sanpia, 43 anos, do povo Ikpeng

É reconhecido em sua comunidade por ser guardião de conhecimentos sobre cantos e arquitetura tradicionais. Coordena a organização de rituais e expedições à floresta para trazer caça nas festas da aldeia Moygu, Terra Indígena do Xingu (MT).

Wanku Ikpeng, 40 anos, do povo Ikpeng

Guardiã de variedades agrícolas do povo Ikpeng, Wanku vive no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Casada com Wanka Sanpla e mãe de Oreme, é coletora da Rede de Sementes do Xingu, iniciativa inovadora que une geração de renda e restauração florestal.

Oreme Otumaka, 26 anos, do povo Ikpeng

Liderança entre os jovens do Xingu, Oreme é parte da Rede de Sementes do Xingu, sendo responsável pela orientação aos integrantes da rede na região do baixo e médio rio Xingu, no Mato Grosso.

Ianukula Kaiabi Suia, 41 anos, do povo Kawaiwete

Com uma trajetória longa de ativismo na Associação Terra Indígena Xingu (ATIX), hoje ocupa a presidência da organização. Ianukula também foi servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) e é filho de Mairawê Kaiabi, uma grande liderança do povo Kawaiwete.

Watatakalu Yawalapiti, de 38 anos, do povo Yawalapiti

Watatakalu tem grande protagonismo na liderança das mulheres xinguanas. Artesã, promove eventos sobre arte indígena em todo o país. É filha de uma liderança importante do Parque Indígena do Xingu, o falecido Pirakumã Yawalapiti.

Tuiaraiup Kaiabi (Tuiat), 67 anos, do povo Kawaiwete

Pajé da aldeia Kwarujá, vem de uma linhagem de lideranças do Território Indígena do Xingu (MT): é filho do finado Prepori Kaiabi, protagonista na defesa dos Kawaiwete entre 1950 e 1960. Reconhecido por seu povo como um guardião da diversidade agrícola, pesquisa técnicas agrícolas tradicionais e adaptativas frente às mudanças climáticas.

Eteiup Kaiabi, 33 anos, do povo Kawaiwete

Esposa de Tuiaraiup, Eteiup reside na aldeia Kwarujá, no Território Indígena do Xingu (MT). É agricultora e coletora de sementes.

Luis Laureano da Silva, 71 anos, do povo Baniwa

É um dos mais conhecidos mestres da cultura Baniwa e um dos maiores construtores de maloca (casa coletiva tradicional) em São Gabriel da Cachoeira (AM). Famoso por tocar flauta japurutu e promover animados dabucuris (ritual de oferta de alimentos para visitantes), Seu Luis é sempre convidado para participar de eventos culturais pelo Brasil.

Moisés Luis da Silva, 38 anos, do povo Baniwa

Filho do mestre Luiz Laureano Baniwa, é cineasta e integrante da Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, um coletivo de 17 indígenas de oito etnias que produzem mensalmente o boletim de áudio informativo Wayuri. Moisés é também autor do documentário Podáali, sobre música Baniwa.

Almerinda Ramos de Lima, 46 anos, do povo Tariana

Primeira e única mulher a se tornar presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Almerinda ocupou o cargo entre 2013 e 2016 e, hoje, atua como diretora da organização. Em 2018, participou da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, na Polônia. É uma das protagonistas do documentário Quentura.

Janete Figueiredo Alves, 31 anos, do povo Desana

Natural de Iauaretê, povoado da Terra Indígena Alto Rio Negro (AM), Janete é coordenadora na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Engajada na luta das mulheres por maior participação nos espaços de decisão, atua na valorização do trabalho feminino, com oficinas de cerâmica e apoio na comercialização de arte indígena.

Mauro Pedrosa, 32 anos, do povo Tukano

Nascido no Alto Rio Tiquié, na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM), Mauro atualmente trabalha como bolsista do Projeto de Monitoramento Ambiental e Climático em São Gabriel da Cachoeira (AM). Participa de atividades e discussões sobre a gestão territorial e ambiental das terras indígenas do noroeste amazônico.

Mario Feliciano Joaquim, do povo Baniwa

Seu Joaquim é mestre da cultura Baniwa, como seu irmão Luis Laureano. Morador da Comunidade de Itacoatiara Mirim, na zona periurbana de São Gabriel da Cachoeira (AM), Joaquim é um dos mais ativos incentivadores das festas realizadas na Maloca de Itacoatiara.

Heloísa de França Dias, 28 anos, quilombo de São Pedro (SP)

Representante paulista na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Heloísa tem dois filhos e atua na comercialização dos produtos quilombolas do Vale do Ribeira (SP). Lidera discussões sobre segurança alimentar e luta pela valorização do trabalho das mulheres nas comunidades.

Benedito Alves da Silva (Ditão), 64 anos, quilombo de Ivaporunduva (SP)

Ditão, como é conhecido, representa a primeira comunidade quilombola titulada no Vale do Ribeira (SP). Fundador da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira (EAACONE) e do Movimento dos Ameaçados por Barragens (Moab), é grande articulador político e profundo conhecedor do movimento quilombola.

Maria Tereza Vieira, 41 anos, quilombo de Nhunguara (SP)

Tem três filhos e trabalha com a gestão de sementes florestais no Vale do Ribeira, em São Paulo. É articuladora de uma rede de coletores de sementes, iniciativa inovadora que nasceu no Xingu e agora está germinando entre os quilombolas do sudoeste paulista.

Rodrigo Marinho Rodrigues da Silva, 31 anos, quilombo de Ivaporunduva (SP)

Atua na Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras (Eaacone). Também representa os quilombolas no Fórum dos Povos e Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira (SP/PR). Preocupado em envolver a juventude na luta pelos direitos territoriais quilombolas, trabalha com articulação e formação política regionalmente.

Dário Vitório Kopenawa, 36 anos, do povo Yanomami

Filho mais velho de Davi Kopenawa, Dário se tornou professor na comunidade Watorikɨ na década de 1990, liderando o projeto de educação intercultural bilíngue e valorização da escrita da língua Yanomami. Hoje é vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

Davi Kopenawa, 63 anos, do povo Yanomami

Xamã, pensador e porta-voz de seu povo, Davi é presidente da Hutukara Associação Yanomami. Há 30 anos luta nacional e internacional em defesa do território Yanomami, especialmente contra a invasão garimpeira. Em 2010, publicou o livro “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”, com o antropólogo Bruce Albert, pela Companhia das Letras.

Maurício Tomé Rocha, do povo Ye’kwana

Há mais de 10 anos na Hutukara Associação Yanomami, Maurício acumula experiência e conhecimento sobre a política não-indígena. Desde os 13 anos divide seu tempo entre a comunidade Fuduuwaadunnha, na Terra Indígena Yanomami, e a cidade de Boa Vista, em Roraima.

Maika Renato Waimiri, do povo Waimiri Atroari

Com 36 anos, Maika é pai de 5 filhos e liderança da aldeia Wakyna, na Terra Indígena Waimiri Atroari, em Roraima.

Tuwadja Joanico Waimiri, do povo Waimiri Atroari

Com 40 anos, Joanico é pai de 12 filhos e liderança da aldeia Mayamy, na Terra Indígena Waimiri Atroari, em Roraima.

FONTE: Catraca Livre em 24/04/2019

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