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UM TERRITÓRIO: Nilo Peçanha – Baixo Sul da Bahia – Costa do Dendê

Nilo Peçanha é um município localizado na região do baixo sul do estado da Bahia. Sua origem remonta aos anos de 1565, quando se chamava Vila de Santo Antônio de Boipeba. O município também já teve o nome de Vila de Nova Boipeba e freguesia de Divino Espírito Santo. Somente em 1930 é que passou a se chamar Nilo Peçanha.

Existem duas comunidades quilombolas em Nilo Peçanha: Boitaraca e Jetimani, separadas apenas por 16 km. Os laços de parentesco entre as duas comunidades são bem estreitos, uma vez que é muito comum o casamento entre seus membros, cuja maioria pertence às famílias Assumpção e Rosário. No século XVIII, a cidade foi uma das grandes produtoras de açúcar da região. Contava com enorme contingente de escravos distribuídos por diversas fazendas, entre elas, a fazenda Mutupiranga, pertencente a Joaquim Pinto da Silva. Segundo depoimentos de quilombolas de Boitaraca, dessa fazenda fugiram os escravos que deram origem à comunidade, antes da abolição da escravatura.

Entretanto, as duas comunidades quilombolas de Nilo Peçanha são fruto principalmente da mistura de negros e indígenas. Essa junção intensificou-se pós a abolição, quando os ex-escravos procuraram lugar para se instalar. A mistura desses povos é bem visível e se expressa, entre outras coisas, pelos nomes dados às comunidades. Boitaraca, segundo contam, vem do nome de uma borboleta chamada pelos indígenas de “embaetara” que, com a dificuldade de pronúncia, tornou-se “boitaraca”. Já a comunidade de Jetimani explica o nome pela existência de indígenas no local que criavam a abelha jeti e de um indígena mais velho chamado Mani. Unindo as duas coisas surgiu “jetimani”.

Hoje, as principais atividades exercidas pelos membros das duas comunidades estão ligadas à pesca, à piaçava e ao dendê. Afinal, Nilo Peçanha também é conhecido como um dos municípios que compõem a Costa do Dendê, região entre o Recôncavo baiano e o Rio de Contas, de vasta ocorrência do dendezeiro. Além desses produtos, a base econômica de Nilo Peçanha é a produção de cravo, pimenta, urucum e guaraná. Compõem também a economia local indústrias de beneficiamento da piaçava e de dendê – do qual se aproveita tudo, do óleo ao bagaço. Do óleo de dendê se produz o azeite, cosméticos; e a fibra do bagaço serve como combustível para as caldeiras da fábrica. Boitaraca, por exemplo, integra uma cooperativa de beneficiamento de piaçava, que reúne diversas comunidades, quilombolas ou não.

Chamam ainda atenção as belezas naturais presentes no município, principalmente o Rio das Almas e parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi. O rio é utilizado para a prática de rafting, além de apresentar belas cachoeiras, atraindo turistas em busca de esportes chamados “radicais”. Jetimani e Boitaraca contam com escola de ensino fundamental, mas o Ensino Médio só está disponível em Nilo Peçanha, para onde os alunos deslocam-se utilizando transporte provido pela prefeitura.

Boitaraca e Jetimani são comunidades em que KOINONIA atua desde 2007, por meio da parceria entre o Programa Egbé Territórios Negros, o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Camamu. O trabalho tem como foco assessorar os quilombolas na busca da garantia de permanência em suas terras ancestrais, com enfoque na luta por seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.

Ana Gualberto Graduanda em História – UERJ 

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 8, n. 32, dez. 2007- jan./fev. 2008

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