UM TERRITÓRIO: Ivaporunduva
Ivaporunduva é a mais antiga comunidade quilombola de São Paulo, formada por descendentes de escravos que se embrenharam no Vale do Ribeira no século XVIII, à procura de ouro.
A Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário, em torno da qual a vila cresceu, continua de pé, com a face voltada para o Ribeira do Iguape, único grande rio não barrado do estado. Constituída em taipa, em 1791, ela é o orgulho da comunidade, destacando-se sobre a paisagem composta pela exuberância da Mata Atlântica e extensos bananais a única fonte de renda da população – 70 famílias, organizadas em torno da Associação Quilombo de Ivaporunduva.
Para quem chega, o acesso é feito com canoas iguais às do passado ou balsas. Crianças e adultos enfrentam diariamente a correnteza para ir e voltar da escola, comprar algo, resolver algum negócio ou passear em Iporanga, cidade mais próxima.
Ivaporunduva significa “rio de muitos frutos”, em tupi. Para seus moradores, o Ribeira foi a primeira fonte de alimentos e água, estrada inicial de suas vidas. De um lado, apresenta riquíssimo patrimônio cultural e ambiental, com florestas, restingas e mangues praticamente intactos, graças ao relevo acidentado e às dificuldades de acesso. Do outro, os mais baixos indicadores sociais de São Paulo – altas taxas de mortalidade infantil e analfabetismo, falta de escolas, assistência médica e saneamento.
Recentemente, Ivaporunduva tornou-se a primeira comunidade quilombola de São Paulo a conseguir a propriedade definitiva de suas terras – 3,1 mil hectares de área, aproximadamente. A atividade básica é a bananicultura, a exemplo do que acontece em todo o vale. São 400 mil pés, cultivados em esquema familiar. Perto de cada casinha tem um bananal, por menor que seja, além de roçados de arroz, feijão, milho, hortas e fruteiras variadas. A colheita é feita em mutirão, e a comercialização, no atacado. Conseguiram a certificação da banana como produto orgânico pelo Instituto Biodinâmico, valorizando ainda mais a mercadoria.
A população também passou a buscar fontes alternativas de renda, reintroduzindo o plantio de juçara, espécie nativa da Mata Atlântica, ameaçada de extinção pela exploração predatória. O objetivo é repovoar a mata para viabilizar o manejo sustentável no futuro. Outra atividade geradora de renda é o curso de capacitação em artesanato, em que são resgatadas técnicas artesanais ancestrais utilizando a fibra de bananeira, com a qual fazem bolsas, esteiras, sacolas, colares, pulseiras, tudo muito bem aceito pelos turistas que vêm visitá-los.
O turismo cultural também já chegou em Ivaporunduva. A comunidade conta com um técnico ambiental e com quatro monitores ambientais capacitados pelo Itesp, órgão que os ajudou na construção de um hotel com capacidade para hospedar 45 pessoas.
FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 5, n. 20, ago./dez. 2005