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UM TERRITÓRIO: Comunidade Quilombola do Barro Preto

A comunidade de remanescentes de quilombos do Barro Preto está localizada no município de Santa Maria do Itabira, região do Vale do Aço, Minas Gerais. A comunidade, que anteriormente se chamava Córrego de Santo Antônio, adotou a denominação Barro Preto devido à prática de seus moradores de pintar a roupa de preto, durante os períodos de luto, usando barro, cipó e gabiroba.

Segundo relatos de moradores, Barro Preto foi ocupada por volta da segunda metade do século XIX e teve suas origens na comunidade de Indaiá. Acredita-se que escravos fugitivos e outros já libertos vieram do Rio de Janeiro e da Fazenda das Pedras de Minas Gerais justamente com destino a essa localidade. Os primeiros habitantes teriam sido Tobias Pires, João Grigó da Silva, Francisco Acácio e Quitéria Carneiro, esta última a maior detentora de terras da comunidade.

Conta-se que o Governo concedeu terras às comunidades negras que se instalaram na região, mas os fazendeiros das proximidades se apoderaram delas por meios ilícitos, utilizando documentos falsos (processo conhecido como “grilagem”) e alegando que os que ali residiam não tinham título das propriedades. A apropriação das terras também se deu por meio de dívidas contraídas pelos quilombolas com os próprios fazendeiros, através de empréstimos financeiros ou de insumos necessários aos cultivos. Como os quilombolas não conseguiam pagar os empréstimos, suas propriedades lhes foram tomadas. Essas dívidas, porém, jamais corresponderam ao valor real das terras. Assim, através de pressões, intervenções de forças policiais e ameaças, além de manterem os quilombolas em áreas diminutas, obrigaram alguns a deixar suas terras de direito. Atualmente, a área ocupada pela comunidade restringe-se a dois hectares e somente uma minoria possui título de comprovação de posse.

A comunidade de Barro Preto tem sua cultura marcada pela capoeira, danças associadas ao batuque, umbigadas, quadrilha e festas, como a de Santo Antônio, padroeiro da comunidade, e a festada Vigília de Natal. A organização dos habitantes é marcada pela associação de moradores, que leva o nome de Associação São Francisco de Barro Preto, fundada em 1986, bem como pelos grupos de capoeira e de artesãos.

Segundo depoimentos, os maiores problemas enfrentados pela comunidade são: ausência de espaço para o desenvolvimento de atividades; racismo; alcoolismo; gravidez na adolescência; falta de empregos; escassez de transporte; más condições da estrada; ausência de cursos superiores nas proximidades. Muitos desses problemas já foram relatados e encaminhados à prefeitura,mas até agora não houve resposta.

Atualmente há dois projetos sendo desenvolvidos na comunidade. O grupo Agentes Pastorais Negros (APN) está realizando um trabalho de resgate cultural, abordando a relação entre negros do Brasil e da África. Através do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) foi estruturado o Programa Mutirão de Segurança Alimentar (Prosan),que tem como enfoque o incentivo às hortas comunitárias.

A comunidade ainda não foi reconhecida como remanescente de quilombo, embora haja adesão plena à causa por parte dos moradores de Barro Preto. Em abril de 2005, lideranças locais foram ao Incra e oficializaram a denúncia de ocupação indevida de seu território e do uso de terras para o plantio de eucalipto e criação de gado, que,entre outras coisas, prejudicam as suas roças.

Por Equipe Quilombos Gerais – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes)

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 5, n. 16, maio. 2005

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