UM POUCO DE HISTÓRIA: Quilombo dos Palmares
Por Daniela Yabeta
Localizado na serra da Barriga, sertão de Alagoas, Palmares foi a mais importante comunidade quilombola do Brasil. Sua formação ocorreu, provavelmente, no início do século XVII, quando um pequeno número de escravos fugiu de um engenho ao sul da capitania de Pernambuco.
Embora seja objeto de inúmeros livros, a documentação sobre o quilombo é escassa. Há controvérsias sobre o número total de pessoas que viviam na comunidade, estimando-se que tenha oscilado entre seis mil e 20 mil pessoas. Mesmo sem grande apoio documental, Palmares foi visto por muitos estudiosos como uma tentativa de construção de um verdadeiro Estado africano no Brasil.
Acreditava-se que consistia num projeto de resistência e restauração da África, uma sociedade de caráter alternativo e igualitário, em contraponto à sociedade escravocrata. No entanto, essa argumentação deixa de lado os claros sinais de hierarquia que lá existia. Afinal, tudo nos leva a crer que a organização política dos quilombolas baseava-se em uma “monarquia eletiva”. Além disso, essa versão histórica omitia a existência comum de escravidão nos quilombos. Tratava-se, portanto, de uma idealização de Palmares e da própria África, visto que os reinos africanos não só conheciam a escravidão como associavam-se aos europeus no tráfico atlântico.
A comunidade vivia da caça, pesca, agricultura, e chegou a comercializar esses gêneros em troca de armas e munições. Desenvolveu recursos artesanais, incluindo a metalurgia conhecida na África.
Palmares sempre foi considerado uma ameaça para os poderosos da capitania. Ao longo dos anos, transformou-se em uma fortaleza militar que desafiava o poder colonial constantemente.
Após inúmeras expedições fracassadas e diversas batalhas, em 1677, o experiente capitão-mor Fernão Carrilho deu Palmares por destruído. Na verdade, o que fez foi prender muitos quilombolas, entre eles familiares de Ganga Zumba, na época, líder da comunidade.
Aproveitando essa situação, o governador Aires de Souza e Castro pressionou o rei do quilombo, que acabou selando um acordo de paz com as autoridades. Ganga Zumba obteve alforria para os nascidos em Palmares, a concessão de terras em Cucaú e a garantia de prosseguirem no comércio com os vizinhos. Esse acordo foi o grande divisor de águas na história de Palmares. Muitos quilombolas não o aceitaram, o que acabou provocando dissidências entre o grupo. Esses dissidentes envenenaram Ganga Zumba e uma nova liderança surgiu: Zumbi, que insistiu na guerra.
Os que aceitaram o acordo de paz foram para as terras de Cucaú e acabaram sendo reescravizados e distribuídos entre os senhores da região. O acordo, portanto, não passava de um golpe para desestabilizar o quilombo.
As expedições contra Palmares aumentavam cada vez mais e o novo líder Zumbi continuou lutando pela manutenção de seu território. Até que, em 1694, o massacre foi iniciado com a destruição de diversos mocambos, inclusive o quartel general de Palmares, o mocambo de Macaco. Em 1695, Zumbi foi morto pelos bandeirantes e sua cabeça enviada para o Recife como troféu pela destruição definitiva de Palmares.
No século XIX, a história do quilombo dos Palmares voltou a ser destaque e passou a ser estudada por abolicionistas como Joaquim Nabuco, que transformou Zumbi em herói da luta contra a escravidão, enquanto Ganga Zumba assumiu o papel de grande traidor da causa.
Essa interpretação sugere que Palmares tinha como objetivo o fim da escravidão, o que não parece ter sido cogitado por Zumbi, antes motivado pelo receio de “traições” do governo colonial e pelas disputas com Ganga Zumba. De qualquer forma, o que supera todas essas interpretações é o fato de que o quilombo dos Palmares pôs em xeque a sociedade escravista do século XVII.
Fonte Bibliográfica: REIS, J & GOMES, F. (orgs). Liberdade por um fio. São Paulo, Companhia das Letras, 1996 VAINFAS, R. Dicionário do Brasil Colonial (1500 – 1808). Rio de Janeiro, Objetiva, 2000
FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 6, n. 24- 25, jul./ out. 2006