UM POUCO DE HISTÓRIA: Mandinga
Por Daniela Yabeta
Quando falamos em mandinga logo pensamos em bruxaria, feitiçaria, mas a palavra refere-se ao grupo dos mandingas ou malinkes, habitantes do reino muçulmano de Mali que vieram do vale do Níger, na África, por volta do século XIII.
Os mandingas tinham por costume usar amuletos no pescoço na forma de pacotinhos contendo papéis com versículos do Alcorão e signos de Salomão, e foi deles que surgiram as bolsas de mandingas tão difundidas no Brasil.
De origem africana islamizada, o amuleto acabou por se difundir entre a população negra de origem banto – oriunda do Congo ou de Angola – pelos outros grupos africanos envolvidos no tráfico, e pela população em geral, tanto no Brasil colônia, quanto no próprio reino português.
Confundidos com feiticeiros, os mandingueiros foram processados, principalmente no século XVIII, por portar ou vender estas bolsas para seus mais variados clientes, que acreditavam que ao usarem o amuleto ficariam com o “corpo fechado” e protegidos de inimigos.
As mandingas eram feitas, em geral, de pano branco e continham pedaços ou cacos de pedra d´ara (o pedaço de mármore do altar cujo orifício os padres consagravam a hóstia e o vinho) e pequenas tirinhas de papel cheia de letras e figuras. Esta é considerada como uma forma tipicamente colonial de feitiçaria no Brasil, por ser um amuleto sincrético, isto é, que mistura símbolos de diferentes tradições religiosas: a bolsa de mandinga incorporava a crença européia nos talismãs com os fetichismos (objetos mágicos) de origem africana e mesmo ameríndia. Por isso a sua enorme difusão na América de colonização portuguesa entre as mais variadas camadas sociais, sobretudo no século XVIII. Mas as bolsas de mandinga também estiveram presentes em Portugal. Acompanhando seus senhores, muitos escravos transitaram entre a África, o Brasil e o reino português, fazendo com que as bolsas fossem levadas para a metrópole e registradas pela Inquisição européia.
O pequeno amuleto mágico nos permite compreender a especificidade da feitiçaria luso-afrobrasileira, a ocorrência de tensões microscópicasna sociedade e a difusão de religiosidades sincréticas não só no Brasil como em topo o império português.
Fontes Bibliográficas: Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu, de MOTT, L. pág. 155-220 do livro História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. O diabo e a Terra de Santa Cruz, SOUZA, L. de M. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 7, n. 30, jul./ago. 2007