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UM TERRITÓRIO: Sibaúma

O Rio Grande do Norte, ainda na primeira metade do século XIX, abastecia-se de escravos vindos de dois grandes centros: Pernambuco e Maranhão. De Pernambuco, os negros eram enviados para a região açucareira potiguar, sobre tudo a partir de 1845, quando a indústria do açúcar foi ativada nos municípios de São Gonçalo, Ceará Mirim, São José de Mipibu, Papari, Goianinha e Canguaretama. Já os negros com prados no Maranhão chegavam ao Rio Grande do Norte pelo Ceará e eram desembarcados em Areia Branca, atendendo as necessidades da indústria salineira de Açu, Mossoró, Macau e Areia Branca. O negro, portanto, atuava principalmen e em dois tipos de trabalho: nas indústrias açucareira e salineira, e em menor quantidade nas fazendas de gado. Os que fugiam formavam comunidades que se isolavam da sociedade, como aconteceu com Sibaúma.

Localizada no município de Tibau do Sul, a 90 km de Natal, limita-se ao sul com o rio Catú, que a separa de Barra do Cunhaú e tem em seu território uma série de belas e grandes falésias.

A comunidade é representada pela Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sibaúma, instituição que luta há mais de 10 anos pela retomada de suas terras, que têm sido griladas, devastadas ou vendidas. Vizinha da praia de Pipa, antiga vila de pescadores hoje ponto turístico internacionalmente conhecido, Sibaúma é alvo da especulação imobiliária, dos latifundiá rios e dos criadores de camarão.

Os costumes e valores atuais dos quilombolas de pouco se aproximam aos de seus ancestrais do século XIX. A pobreza junta-se ao analfabetismo ainda presente na população. Na vila, centro da comunidade, ainda há moradias de taipa. As atividades desenvolvidas pelos quilombolas de Sibaúma, sejam em Pipa ou Barra de Cunhaú, são de garçons, guias, vigias e serviços de limpeza e comércio. As mulheres concentram-se mais em pousadas, sobretudo na alta estação. Em menor número, há pescadores e agricultores que mantêm a cultura de subsistência. Os roçados, chama dos pauls, são terras alagadiças, de extrema fertilidade. Os quilombolas esperam a titulação das terras para plantar no local e alavancar o comér cio dos produtos alimentícios como batata doce, inhame, jerimum, banana, mandioca e feijão.

A titulação de suas terras é a única forma de frear este avanço brutal e inaceitável. Mas como esse processo tornará os nativos donos da terra e uma vez tituladas não poderão mais ser vendidas, vai contra os interesses econômicos dos especula dores e hoje, a comunidade sofre com inúmeros ataques de agentes externos que tentam mani pular a opinião dos quilombolas, colocando-os contra os seus direitos constitucionais. Indivíduos com interesse contrário ao processo de titulação iniciaram uma campanha de desinformação, amedrontando a população e provocando conflitos internos. Com o objetivo de criarem uma “Nova Pipa”, sob o pretexto da geração de novos em pregos, veiculam uma idéia de desenvolvimento que se sustenta na especulação imobiliária, na venda das dunas e no deslocamento dos antigos moradores. Os quilombolas que resistem a este processo hoje são ameaçados de morte.

Daniela Yabeta Graduanda em História UFRJ

Fonte bibliográfica: História do Rio Grande do Norte

Tribuna da Imprensa – Cadernos Especiais

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 6, n. 22- 23, mar./jun. 2006

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