UM POUCO DE HISTÓRIA: O Quilombo de Manoel Congo
Durante todo o período de vigência do regime escravista o município de Vassouras, localizado no Vale do Paraíba, no Estado do Rio de Janeiro, foi um dos maiores mercados de escravos da região. O grande número de escravos fazia com que os conflitos contra os senhores se desse sem tréguas. Na luta contra a escravidão, o quilombo de Manoel Congo, formado em 1838 em Paty do Alferes, antiga sede da vila, merece destaque.
Em 13 de novembro de 1838, na Fazenda Freguesia, de propriedade do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, morria o africano Camilo Sapateiro, assassinado a pauladas. Outros escravos da fazenda previam que levariam a culpa do assassinato como forma dos senhores fugirem da responsabilidade moral, em um momento em que inúmeros enforcamentos estavam ocorrendo. Dessa forma, cerca de trezentos escravos, comandados pelo escravo Manoel Congo arrombaram as portas da Fazenda Maravilha, de propriedade do capitão-mor, roubaram mantimentos e vários outros objetos e depredaram a sede, revoltados contra o tronco, o trabalho forçado, a fom e e a miséria. Daí partiram para a Fazenda Santa Catarina, onde tentaram matar o capataz, que conseguiu fugir, e fugiram para uma densa mata para organizarem um quilombo.
Dias depois, os negros desceram da serra de Santa Catarina, incendiaram toda a Fazenda Maravilha e realizaram uma festa ao som de batuque, antes de voltarem para as matas. Revoltado, Manoel Francisco Xavier reuniu outros fazendeiros, também prejudicados com a fuga de escravos para o quilombo de Manoel Congo, e pediram ao governo a presença do exército. Sem conseguir o apoio pedido, os fazendeiros formaram uma expedição para destruir a organização dos escravos revoltados. No caminho pela mata esse exército de fazendeiros percebeu a existência de inúmeros ranchos, o que revelava que o quilombo era mais antigo do que se imaginava. Foram encontrados também dois acampamentos escravos nas trilhas por onde a expedição de fazendeiros caminhou por oito horas até encontrar os negros aquilombados. Depois de um intenso enfrentamento com armas de fogo, os homens de Manoel Congo venceram e fugiram dali.
Em 11 de dezembro de 1838 aconteceu o último e fatal ataque ao quilombo Manoel Congo, considerado o maior quilombo do Estado do Rio de Janeiro, segundo alguns pesquisadores. Manoel Congo e seus líderes foram presos e mantidos vivos para serem açoitados publicamente e enforcados legalmente. Manoel Congo respondeu a dois processos por crime de insurreição e homicídio e foi condenado à pena de morte em 06 de setembro de 1839; os outros líderes do movimento foram condenados a seiscentos e cinqüenta açoites cada um, dados a cinqüenta por dia , e a andarem três anos com gancho de ferro.
Para saber mais:
“O efêmero quilombo do Pati do Alferes, em 1838” de autoria de José Antonio S. Souza. Revista do IHGB, volume 295 abril/junho 1972. http://www.ipahb.com.br/manoelcongo.php http://www.patydoalferes.rj.gov.br/historia/congo.htm imagem de Manoel Congo retirada do site http://www.ipahb.com.br/manoelcongo.php
FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 4, n. 16. 2004