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UM POUCO DE HISTÓRIA: A Revolta da Balaiada

A Balaiada foi o nome dado a uma série de levantes populares liderados por Manuel Raimundo Gomes, o Balaio, em que negros, mestiços e sertanejos do Maranhão lutavam contra a situação de miséria em que se encontravam e questionavam a interferência política do poder central nas províncias.

A província do Maranhão era composta na sua maioria por escravos e sertanejos pobres que viviam da pecuária e da lavoura de algodão. Com a independência dos Estados Unidos, a concorrência no mercado internacional de algodão aumentou, causando uma crise na economia da região e abalando toda a estrutura local. Esse cenário motivou a população para lutar por uma melhor condição social, já que a parte mais pobre da população vivia de forma precária. A Balaiada teve o apoio de uma das facções políticas locais, os Bem-te-vi, que eram contrários ao governo e ao grupo conservador, os Cabanos.

O fato inicial da revolta ocorreu em dezembro de 1833, quando o vaqueiro Raimundo Gomes, um mestiço conhecido como Cara Preta, passava pela Vila da Manga levando uma boiada de seu patrão para vender em outro local. Na ocasião, muitos dos homens que o acompanhavam foram recrutados à força para servirem como militares1 e seu irmão foi preso sob a acusação de assassinato. Raimundo invadiu a cadeia e libertou não somente seu irmão como também os outros presos. Para sua surpresa, a guarda não resistiu à ação de Raimundo e seus companheiros e aderiu ao movimento.

Após este fato, o movimento se ampliou por toda a província. Por onde os revoltosos passavam mais gente aderia ao movimento. A mais importante dessas adesões foi a de Negro Cosme, liderança do mais importante quilombo da província neste período. À frente de três mil escravos rebelados, Cosme se intitulava “Imperador, Tutor e Defensor das Liberdades Bem-te-vis”.

Em 1839, os Balaios tomaram a Vila de Caxias que era tida como a segunda cidade mais importante da Província. Pelas ruas da Vila de Caxias se ouvia:

” O Balaio chegou! O Balaio chegou. Cadê branco! Não há mais branco! Não há mais sinhô! ”

Os balaios organizaram-se em um Conselho Militar e formaram uma Junta Provisória com a participação de elementos bem-te-vis da cidade. Foi enviada a São Luís uma delegação para propor uma forma de pacificação que incluía: anistia para os revoltosos; pagamento das forças rebeldes; expulsão dos portugueses natos e diminuição de direitos aos naturalizados; revogação da ‘lei dos prefeitos2 e instauração de processo regular para os presos existentes nas cadeias.

Mesmo com algumas conquistas importantes, o movimento entrou em rápido declínio, com muitas divergências internas. Além disso, o grupo Bem-te-vi se afastou, pois temia a radicalização da revolta, já que a camada mais pobre da população assumiu a liderança do movimento. Assim, como não conseguiram obter as vantagens que esperavam apoiando os balaios, os Bem-te-vi passaram a integrar a oposição.

A repressão da Balaiada marcou o início da “política de pacificação” através da qual o Coronel Aluis Alves de Lima e Silva, futuro Barão de Caxias, sufocou as insurreições que ocorreram durante o Império. Mesmo assim, não derrotou o espírito de luta e resistência dos negros do Maranhão, um dos estados brasileiros com maior número de comunidades remanescentes de quilombo.

notas: 1 O recrutamento obrigatório, uma das armas do Governo para controlar a população, sempre foi visto como uma ação arbitrária, pois recaía sempre sobre os menos favorecidos, que eram obrigados a qualquer momento a servir nas forças policiais e militares.

 2 A Lei dos Prefeitos autorizava os governantes locais, os prefeitos, a exercerem um poder imenso na Província, inclusive o poder policial.

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 6, n. 21, jan./fev. 2006

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