UM POUCO DE HISTÓRIA: Campos Novos
“Complexo Cultural e Ambiental da Missão Jesuítica de Santo Inácio de Campos Novos” – é assim que hoje é chamada a área em torno da sede da antiga Fazenda Campos Novos. Depois de muitos anos de abandono e invisibilidade, a fazenda tem recebido a atenção de pesquisadores de diferentes áreas que pretendem salvar o patrimônio histórico e arquitetônico construído pelos padres jesuítas em 1623 e que há anos vem sendo ameaçado de desaparecer.
Hoje, a área que compreendia a antiga Fazenda Campos Novos consiste no segundo distrito de Cabo Frio. Sua área original foi sendo progressivamente dividida em inúmeras fazendas desde 1759, quando foi adquirida por um grande fazendeiro, após a expulsão dos jesuítas do Brasil. A criação de novas fazendas e o aparecimento de proprietários tem causado uma violenta disputa de terras entre os antigos moradores e aqueles que, apresentando escrituras de terras, se intitulam donos.
Em torno da sede e distribuída por todo antigo território da Fazenda Campos Novos encontra-se uma enorme população descendente dos escravos da região. Esses escravos adquiriram aquelas terras por meio de doação, compra ou simplesmente através do apossamento das terras abandonadas por seus antigos senhores. Desde a abolição da escravatura eles ocuparam essas terras livremente, sem a interferência de nenhum proprietário, ocupando coletivamente o mesmo território e estabelecendo regras próprias de uso da área.
Mas no final da década de 40 essa situação começou a se modificar, quando um grande fazendeiro se apresentou como novo proprietário da Fazenda Campos Novos. Sua primeira ação foi despejar as famílias que viviam próximas à área da sede, em uma localidade chamada Rasa, após força-las a assinar contratos em branco. Alguns anos mais tarde, outras famílias começaram a ser ameaçadas de expulsão através de muita violência empregada pelos “jagunços” do fazendeiro, nas fazendas da Caveira e de Botafogo. A partir da década de 50, os conflitos de terra foram progressivamente aumentando tanto em quantidade quanto em intensidade de violência. Em pouco mais de 30 anos, quase toda a antiga Fazenda Campos Novos estava envolvida em conflitos fundiários em função da especulação imobiliária que se abatem sobre a região. Além da violência empregada contra os moradores, o patrimônio físico da Campos Novos começou a ser progressivamente destruído, com a proibição de realização das festas tradicionais, o fechamento da igreja e do cemitério, entre outras ações.
Para defender-se das invasões e tentativas de expulsão, os moradores das fazendas da Caveira e Botafogo organizaram-se coletivamente em uma associação, que mais tarde foi transformada em sindicato. A “Associação de Lavradores de São Pedro da Aldeia e Cabo Frio” e o “Sindicato de Trabalhadores Rurais de São Pedro da Aldeia e Cabo Frio” foram as primeiras organizações de trabalhadores rurais da Região dos Lagos. Por meio delas, aquelas famílias começaram a defender suas terras na justiça através de ações possessórias e de usucapião. Em 1983, com o agravamento do conflito, o Incra realizou intervenção na área desapropriando parte daquelas terras para fins de reforma agrária.
Hoje, muitas dessas áreas ocupadas por grupos de famílias negras ainda encontram-se ameaçadas de perderem suas terras. O Projeto Egbé – Territórios Negros acompanha a situação de cinco delas, duas já ofi¬cial¬mente reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares como comunidades remanescentes de quilombo, “Fazenda da Caveira” e “Rasa” (ver Informativo nº 3). “Preto Forro”, em dezembro de 2001 deu entrada no seu pedido de reconhecimento como comunidade remanescente de quilombo através do Ministério Público Federal.
O interesse recentemente dedicado a esta localidade expressa o reconhecimento público da importância histórica, cultural e social da antiga Fazenda Campos Novos.
FONTE: Boletim Territórios Negros (v.3, n.2. 2003)