UM POUCO DE HISTÓRIA: A Revolta de Queimados
Em 19 de março de 2004 comemorou-se os 155 anos da Revolta do Queimado . Este distrito do município de Serra (ES) foi palco de uma intensa revolta de escravos pela liberdade. A insurreição iniciada em 19 de março de 1849, durou cinco dias e só terminou com a prisão dos líderes do movimento.
Tudo começou com o compromisso assumido por um frei com os escravos locais. Frei Gregório José Maria de Bene era um capuchinho italiano que tinha ideias abolicionistas e o desejo de construir uma grande igreja no povoado de Queimado. Para realizar essa construção, teria se comprometido com alguns escravos prometendo que aqueles que participassem da tarefa poderiam ser posteriormente libertos. Frei Gregório prometeu aos escravos que intercederia junto aos senhores para que alforriasse todos os escravos que contribuíram na obra da igreja.
No dia 19 de março, dia da festa de São José, durante a celebração da missa em homenagem ao santo, cerca de trinta escravos entraram na igreja. Aproveitando o momento de festa em que se encontravam reunidos vários senhores, os escravos pretendiam exigir suas declarações de alforria. Contando que o padre os apoiaria, os escravos entraram na igreja aos gritos de liberdade. Instaurado um momento de confusão, o padre interrompeu a missa e, sem nenhuma comunicação com os escravos, abandonou o altar. Mesmo sem o apoio do padre, Elisário, João e Chico Prego, líderes do movimento, e outros escravos resolveram percorrer as casas dos senhores exigindo que assinassem a declaração de alforria. Acreditavam que apresentando as declarações assinadas o padre não se omitiria e os ajudaria a oficializar o documento junto à Imperatriz Dona Tereza Cristina, com quem o padre mantinha relações de amizade.
Os escravos seguiram para diversas fazendas reunindo um número cada vez maior de escravos e exigindo que seus senhores assinassem as declarações de liberdade. Segundo o presidente de província, nessas incursões os escravos foram acumulando armas, munições e chegaram a formar um grupo de cerca de trezentos revoltosos, gerando confrontos e vítimas feridas dos dois lados.
Do dia 20 ao dia 23 deu-se o combate à insurreição pela força policial. Na perseguição aos revoltosos, os policiais atiravam em qualquer negro que encontravam pelas ruas, estando envolvidos na revolta ou não. Muitos escravos foram mortos e outros brutalmente castigados. No dia 31 foi realizado o julgamento e a sentença só foi obtida após três dias de debate.
Em 7 de dezembro, cinco presos conseguiram fugir da prisão. Como na prisão não foi encontrado vestígio de arrombamento, a fuga foi atribuída a um milagre de Nossa Senhora da Penha, já que Elísiário insistia com seus colegas que não parassem de rezar. Este escravo se tornou uma lenda já que, mesmo perseguido, nunca foi encontrado. Tornou-se herói entre os negros que lutavam pela liberdade e sua fuga foi cantada em prosa e verso como um milagre da santa. João e Chico Prego foram executados em janeiro de 1850.
Em 1996, a Câmara Municipal aprovou o Projeto Chico Prego , que consiste na concessão de incentivos fiscais na realização de projetos culturais. Em 2002, foi celebrada uma missa afro-ecumênica nas ruínas da Igreja São José de Queimado, em comemoração aos 153 anos da insurreição. Nessa celebração estavam presentes cerca de mil pessoas e entre elas representantes de movimentos sociais e religiosos e também alguns dos descendentes dos escravos revoltosos.
PARA SABER MAIS:
• “História da Serra”, de Clério José Borges
• “A insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo”, de Wilson Lopes de Resende. Edições Itabira, 1949.
• http://kenyor.tripod.com.br/revolta.htm
• http://www.geocities.com/revoltadoqueimado
FONTE: Boletim Territórios Negros (v.4, n.15, ago. 2001)