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Comunidade conta suas próprias histórias em livro

Cinco famílias de trabalhadores escravizados deram origem a comunidade / Foto: Isadora Duarte

Por Wallace Oliveira

Uma das comunidades mais antigas de Minas conta suas próprias histórias em um livro. O material é fruto do projeto “Histórias e sabedorias do quilombo”, realizado pela Associação Cultural das Mulheres Quilombolas de Pinhões, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura captados junto à Cemig.

A antropóloga Lúnia Dias, coordenadora do projeto, conta que o livro foi construído de maneira dialógica pelos próprios quilombolas, com auxílio da equipe do projeto. Jovens da comunidade tiveram oficinas de produção de fotografia, elaboração de roteiro e rap. Eles também conduziram as entrevistas, feitas com pessoas indicadas pela associação comunitária.

“Na composição do material final, tentamos ser fieis à linguagem falada. Na medida em que você lê o livro, você vai conversando. Dá para sentir o diálogo. É uma ‘transcriação’, que cria a escrita a partir da linguagem falada, do modo como cada um falou, com falas de todos os envolvidos, definidas em reuniões com a própria associação”, comenta a antropóloga.

Com tiragem de mil exemplares, está sendo distribuído gratuitamente aos autores, participantes dos eventos de lançamento, 26 escolas quilombolas de Minas Gerais, associações quilombolas da Região Metropolitana e à Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais – N’ Golo. “Vamos ter que angariar recursos para uma segunda edição, pois outras pessoas querem. Essa tiragem não alcança toda a potência que o livro trouxe”, prevê Lúnia Dias.

Séculos de vida, trabalho e cultura

A Comunidade Quilombola de Pinhões fica no município de Santa Luzia, Região Metropolitana. O grupo surgiu há cerca de 300 anos, quando cinco famílias de trabalhadores escravizados das fazendas de Bicas e Macaúbas se instalaram no lugar onde fica o quilombo. “Eles foram constituindo família, vivendo de plantações, criação de animais, artesanato, fazendo panelas de barro, além de tropas de bois e cavalos para levar alimentos para vender e trazer lenha”, conta a quilombola Sônia Aparecida Araújo.

Atualmente as 400 famílias da comunidade contam entre outras atividades, com o trabalho de lavadeiras, paneleiras e balaieiras que, há mais de um século, vendem hortaliças, doces e quitandas no bairro Floresta, região Leste de BH. No quilombo, há duas guardas de Congado: a Guarda de Congo do Divino Espirito Santo, constituída por mulheres, e o Catopé da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, com cerca de 100 homens entre 3 e 80 anos de idade.

“O projeto é importante porque representa para a gente um resgate da nossa própria história, contada pelos próprios moradores. Até então, tínhamos relatos de pessoas que iam à comunidade. Nós somos remanescentes quilombolas. Então, como há resistência de algumas pessoas, pois as opiniões divergem e há uma dificuldade de entender a própria história, nada melhor do que começar contar, pelos próprios anciões, a história do lugarejo”, avalia Sônia.

Edição: Elis Almeida

FONTE: Brasil de Fato em 13/02/2019

 

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