Traficantes da baixada ameaçam expulsar bruxa de casa
Por Ricardo Rigel
Traficantes da baixada fluminense, que se dizem evangélicos, têm promovido uma verdadeira caça às bruxas na região. Desde que um vídeo com um grupo de seguidores da religião wicca de São João de Meriti viralizou nas redes com uma mensagem falsa — que afirmava que o grupo estava em busca de criancinhas para fazer magias—, alguns bruxos têm sofrido até ameaças de morte. Uma delas, revelou ao EXTRA que familiares foram abordados, esta semana, por um grupo de criminosos que exigiram que ela se desfizesse de todos os objetos que fizessem algum tipo de referência à bruxaria.
—Voltamos à inquisição. Aquele tempo em que queimavam bruxas em praças públicas. Estou extremamente assustada com tudo que tenho vivido nos últimos dias. Hoje, recebi uma ligação de uma pessoa da minha família contando que fui ameaçada de forma velada. Os traficantes foram à minha casa, com uma foto minha e falaram que são evangélicos e que tenho até a noite para tirar tudo ligado à bruxaria de dentro da minha casa — explicou a vítima que trabalha como costureira.
Ainda de acordo com a bruxa, os bandidos afirmaram que se ela não respeitar as ordens, sofrerá todas as sanções impostas pela chefia do tráfico:
—Eles são cruéis. Falaram que vão invadir a minha casa e vão quebrar tudo. Eles também disseram que vão me levar para o meio da rua e vão me destruir. Tô muito assustada. Tenho medo de atacarem a minha família e de morrer também. Querem fazer comigo o mesmo que fizeram com as bruxas na Idade Média.
Adepta do ocultismo há 6 anos, a costureira conta que já passou por outras religiões, mas que se encontrou na bruxaria:
—Tinha muitos sonhos. Um dia, contei para uma amiga e ela me disse que era um chamado da deusa (a grande mãe na religião wicca). Me identifiquei muito com os preceitos, porque, diferente do que muitas pessoas possam achar, nós cultuamos a natureza e só fazemos coisas para o bem. Na nossa filosofia, quando se faz o mal para alguém, tudo aquilo volta três vezes pior para a gente. Tenho até medo de fazer uma denúncia à polícia.
A Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), através da Coordenadoria de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa (COPLIR), que já acompanha outras ameaças que o grupo tem sofrido, disse que vai acompanhar a sacerdotisa wicca, ainda esta semana, à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
Casos de intolerância religiosa e outros tipos de violações dos Direitos Humanos podem ser denunciados através do Disque Combate ao Preconceito. O canal funciona no telefone (21) 2334 9551, de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h.
FONTE: Jornal O Globo em 26/09/2018