Família quilombola com sete crianças tem casa incendiada no Norte de Minas
A casa de uma família de origem quilombola, na cidade de Pedras de Maria da Cruz, na região Norte de Minas, foi completamente consumida pelo fogo no último domingo (2). Os pais e sete crianças, sendo uma de nove meses, ficaram desabrigados.
O Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), que atua na proteção dos povos tradicionais na cidade, emitiu uma nota denunciando o ocorrido como sendo um incêndio criminoso, que teria sido causado por fazendeiros da região. Segundo o conselho, essa mesma família foi alvo de uma ação dos proprietários de terra que demoliram a casa onde eles moravam há pouco mais de um ano.
"A família, juntamente com toda a comunidade, vive em uma área cedida pelo governo como reserva quilombola pelo Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS). Há muito tempo eles têm sido ameaçados pelos fazendeiros, que querem tomar posse dessas áreas e usam todo o poder que eles têm contra os moradores", contou a freira Neusa Francisca do Nascimento, da Congregação das Irmãs da Divina Providência.
A irmã de caridade e toda a comunidade reafirmam a certeza da natureza criminosa do incêndio, já que na casa não havia nada que pudesse ter iniciado as chamas. "O fogão a lenha fica do lado de fora, não havia velas e não tem a possibilidade de ter sido curto-circuito porque nem mesmo energia elétrica eles têm na comunidade", contou a freira, que ainda afirmou que a família havia ido à cidade comprar leite, e as crianças estavam na casa de vizinhos e, por isso, ninguém ficou fisicamente ferido.
Segurança
Além da denúncia contra os latifundiários, o conselho ainda reclama da ação das autoridades na tratativa da situação. Segundo a irmã Neusa, "quando as denúncias partem dos fazendeiros, os policiais atendem prontamente as demandas, mas há muita morosidade quando é a comunidade que precisa de ajuda".
Procurada, a Polícia Militar afirmou que atendeu a ocorrência do dia 2, depois que foi chamada pelo Corpo de Bombeiros e, no local, não foram mencionados nomes que pudessem levar à autoria do delito e nem mesmo reportada a suspeição sobre a origem criminosa do incêndio. Sobre a segurança da comunidade de maneira geral, a PM refutou as afirmações do CPP e classificou-as como levianas, já que divergem dos inúmeros atendimentos realizados na região.
"Logo, a Polícia Militar reafirma o seu compromisso no socorrimento à sociedade e ressalta que todas as demandas aportadas, via 190 ou pessoalmente, são prontamente aquiescidas, oportunidade em que voltamos a frisar haver diversos atendimentos solicitados pela comunidade quilombola em questão, o que atesta a disponibilidade e prontidão àquela comunidade, bem como a qualquer cidadão que assim requeira/necessite", afirma a corporação em nota.
A família que teve a casa destruída pelo incêndio está sendo assistida dentro da própria comunidade, que, de acordo com o conselho, permanece unida contra as investidas dos latifundiários.