Cultura da intolerância: terreiro de candomblé é incendiado em Jundiaí
Mais um caso de intolerância religiosa ocorreu, dessa vez no interior de São Paulo. O terreiro de candomblé da mãe de santo Rosana dos Santos foi inteiramente incendiado em Jundiaí. Algumas pessoas que moram no entorno disseram à líder religiosa que viram dois homens pulando um muro, assim que o fogo começou. O caso está sob investigação, mas a comunidade da religião de matriz africana entende este como mais um crime de intolerância religiosa.
A mãe de santo mantinha o terreiro havia dez anos no bairro da Água Doce. Todos os seus pertences e as imagens religiosas foram destruídos pelo fogo. O terreiro leva o nome de três orixás (divindades africanas): Oyá, Xangô e Oxóssi. Rosana dos Santos, a yalorixá Rosana de Iansã, esteve na Assembleia Legislativa para falar sobre a intolerância religiosa. Em sua página no Facebook, ela pede a ajuda de apoiadores para reconstruir o terreiro.
Ela contou que foi avisada por vizinhos, no meio da madrugada, de que homens haviam colocado fogo no templo. “As duas pessoas vistas fugiram pelos fundos e não foram identificadas”, explicou. “Não existe nada pior do que saber que o seu solo sagrado está sendo incendiado. Os bombeiros chegaram rapidamente, mas eu perdi tudo. Todos os ícones sagrados, todos os eletrodomésticos”, contou Rosana.
A mãe de santo tem 56 anos e se dedica ao candomblé desde os 16. Sempre atuou em Jundiaí. De acordo com ela, nunca sofreu nenhuma ameaça do incêndio antes do ocorrido. “Estou triste pela falta de respeito. Mas vou dizer: orixá é intocável e eu vou levantar de novo o terreiro. Ainda não sei como, mas vou”, disse. Ela fez queixa na Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo e o caso foi encaminhado para o Ministério Público em Jundiaí, onde será investigado.
O babalorixá Diego Montone é um dos apoiadores de Rosana. Ele criou o movimento “Brasil contra a Intolerância” para auxiliar pessoas que sejam atacadas por suas crenças religiosas e para combater a intolerância sobretudo contra as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. No Rio de Janeiro, recentemente, terreiros foram destruídos por traficantes que, supostamente, professavam religiões neopentecostais.
O babalorixá afirmou que, nos últimos três meses, um terreiro de candomblé em Carapicuíba, na Grande São Paulo, foi depredado e vandalizado. Em Franco da Rocha, também na Grande São Paulo, um homem invadiu um terreiro durante uma cerimônia religiosa e esfaqueou pessoas, disse Montone.
*Com informações do BuzzFeed News
FONTE: Revista Fórum em 05/10/2017