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Mais um terreiro de candomblé é alvo de criminosos no Rio

Um dia após o CBN Rio trazer dois novos casos de intolerância religiosa, mais um local foi atacado em Araruama, na Região dos Lagos. Bandidos arrombaram a entrada do terreiro e reviraram objetos sacros. A CBN também teve acesso a um levantamento da Secretaria estadual de Direitos Humanos que mostra um total de 32 registros de intolerância religiosa no Rio, entre julho e agosto deste ano.


Por André Coelho

O estado do Rio registrou mais um episódio de intolerância religiosa. Dessa vez, um terreiro de candomblé e de umbanda em Araruama, na Região dos Lagos, foi invadido pela terceira vez neste ano. Criminosos arrombaram, novamente, o centro Ilê Axé Ogum Xoroquê, no bairro Boa Vista, e reviraram o local.

O terreiro foi criado há quatro anos e, desde então, foi alvo de intimidações. O episódio mais recente ocorreu no dia 2, mas só foi divulgado agora. Com 70 anos de idade, o pai de santo responsável pelo centro considera a ação dos bandidos como uma provocação.

‘Já por três vezes, neste ano, arrombaram. Eles entraram no barracão e mexeram nas coisas do sagrado, que são as indumentárias para os pretos-velhos trabalharem. Arrombaram novamente, estouraram o cadeado da cantina e o cadeado do vestiário. Novamente, levaram só gêneros alimentícios. Acredito, eu, que isso seja intolerância.’

O pai de santo afirma que o último episódio assustou os frequentadores da casa. O idoso não quis procurar a polícia por não querer provocar transtornos ao funcionamento da casa e para evitar novos aborrecimentos.

‘Isso que aconteceu deixou todo mundo assustado. Eu tenho meus filhos de santos, a maioria é de senhoras, de modo que todos ficaram assustados e apreensivos. Eu não fiz nenhum registro em delegacia. Eu já sou um homem de 70 anos. Particularmente, eu evito, eu não gosto de me aborrecer.’

Só entre julho e agosto deste ano, foram 32 atendimentos à vítimas de intolerância religiosa registrados pelo estado. A CBN teve acesso a um levantamento da Secretaria estadual de Direitos Humanos que destaca nessa estatística os episódios identificados em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense: foram oito casos registrados na cidade, que conta com 253 casas religiosas de matriz africanas.

O secretário Átila Nunes considera que a prioridade nesse enfrentamento deve ser a identificação e punição dos criminosos. Em paralelo, ele defende que a população respeite a liberdade religiosa como um direito inegociável.

‘Que não haja impunidade. Os casos devem ser devidamente investigados e que aqueles que cometem essas barbaridades, que acabam publicados na internet, sejam punidos. É importante que o cidadão do Rio de Janeiro entenda que esse é um valor de cidadania inegociável: que é o de ter liberdade religiosa.’

O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, critica a falta de uma política pública de combate à essa perseguição. Ele cobra ações de inteligência para ampliar esse enfrentamento. Ivanir explica, ainda, que a subnotificação de ocorrências, principalmente da Baixada Fluminense, dificulta o trabalho das autoridades.

‘Esses casos da Baixada não têm chegado. Se chegar, todos morrem. É uma coisa que tem o tráfico de drogas envolvido. Todo mundo sabe que se fizer esse registro, o cara está morto no dia seguinte. É lamentável que a gente não veja ainda, do ponto de vista do estado, uma ação firme com relação a isso. E, na verdade, as pessoas estão todas ameaçadas de morte.’

Quem passou por esse tipo de agressão busca retomar a rotina, apesar do trauma. Em agosto, uma menina de 15 anos, candomblecista, foi vítima de preconceito em uma escola de São Gonçalo, na Região Metropolitana. O caso foi parar na delegacia e fez com que a jovem não quisesse voltar para a escola.

O pai, Leandro Coelho, conta que que a filha vai começar um tratamento com um psicólogo para enfrentar os traumas causados pela rejeição. Ele disse que a menina, aos poucos, retomou a rotina, mesmo abalada com o que aconteceu.

‘Depois de eu muito insistir, ela disse que preferia morrer ao invés de voltar para aquela escola. O garoto disse para ela que macumbeiro tinha que morrer. Aí eu fui para a delegacia e fiz um boletim de ocorrência. Ela está vivendo a vida dela da mesma forma que ela vivia. A gente também não pode parar a vida dela também por causa dessas coisas. Mas ela está vivendo, graças a Deus.’

A família se converteu ao candomblé há seis anos. A jovem começou a sofrer preconceito por causa da religião em 2015. Leandro disse que se sentiu impotente diante do que a filha passou, sem ter como impedir que a intolerância dos colegas a afetasse.

‘Eu me senti muito chateado, impotente, porque você não espera isso. Você, como pai, espera sempre o melhor para os seus filhos. O seu filho está e uma escola, você pensa que ele está seguro das maldades do mundo. Que ele está ali para aprender. Chega no final, resumindo a história, ele está sendo uma vítima ali dentro, sendo perseguido.’

O total de denúncias de intolerância religiosa subiu 119% entre 2015 e 2016, totalizando 79 ocorrências no estado do Rio.

Ontem, a CBN exibiu dois novos casos ocorridos na Baixada Fluminense. Os dois foram gravados e exibidos na internet. Sacerdotes do candomblé foram obrigados por traficantes a destruir os próprios terreiros. A Polícia Civil já identificou parte desses bandidos. O Ministério Público Estadual também apura esses casos.

FONTE: CBN em 15/09/2017

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