Emater-MG ajuda comunidade de quilombolas a manter as tradições na região Central de Minas
Promover o desenvolvimento e o resgate cultural. Esses são os objetivos do trabalho da Emater-MG com a Associação Quilombola do Mato do Tição, em Jaboticatubas, região Central de Minas Gerais. Há uma década a empresa desenvolve ações voltadas para a agropecuária, geração de renda e a preservação e divulgação da cultura afrodescendente.
A comunidade quilombola Mato do Tição é formada por 37 famílias numa área com pouco mais de 3 hectares. A produção do grupo é para o consumo próprio. São hortaliças, frutas, milho, feijão e mandioca, além da criação de galinhas. A renda das famílias é proveniente de aposentadorias e da prestação de serviços. Muitos homens, por exemplo, trabalham como pedreiros e carpinteiros.
A Associação Quilombola do Mato do Tição foi criada em 2006. A inciativa teve como objetivos o resgate, preservação e divulgação da cultura afrodescendente; a inserção das famílias em programas e políticas públicas; a luta pelo direito à terra; a promoção da causa quilombola e a geração de renda.
A implantação da associação contou com a colaboração da Emater-MG. “A empresa foi responsável pela mobilização da comunidade, orientou sobre a importância e os benefícios de uma associação e contribuiu na elaboração do estatuto da entidade”, afirma a extensionista da Emater-MG, Maria Ângela Castro Paes.
A associação trouxe vários benefícios para as famílias da comunidade Mato do Tição. Um deles foi a inclusão no programa estadual Minas Sem Fome, que é coordenado pela Emater-MG. Por meio do programa, as famílias recebem sementes de hortaliças, milho, feijão, mudas frutíferas e pintainhas. A iniciativa melhorou a qualidade da alimentação dos quilombolas e proporciona a geração de renda extra com a venda do excedente.
A comunidade também foi beneficiada com a construção de 34 fossas sépticas. Uma parceria entre a Prefeitura de Jaboticatubas, Associação Quilombola do Mato do Tição e a Emater-MG. A ação evitou a contaminação do solo, da água e diminuiu a incidência de doenças.
A Emater-MG sempre estimulou o desenvolvimento do artesanato na comunidade Mato do Tição. A empresa atua na organização do grupo e na realização de oficinas. A Emater-MG ainda cedeu para o grupo quatro máquinas de costura. As principais peças produzidas pelos quilombolas são bandeiras, estandartes, roupas e bolsas.
Tradição
Em 2006, a comunidade Mato do Tição recebeu o certificado da Fundação Cultural Palmares como Comunidade Remanescente dos Quilombos. “A Emater apoiou a diretoria da Associação Quilombola do Mato do Tição na organização dos documentos, solicitando a certificação”, diz Maria Paes.
O certificado tem ajudado a valorizar a cultura do grupo e contribuído para que as famílias mantenham as suas tradições. As manifestações culturais do Mato do Tição envolvem danças, músicas, comidas típicas e festas religiosas. As festas são momentos para recriar e reforçar a identidade do grupo. Um dos exemplos é a Reza do Mês de Maria, que acontece durante o mês maio. “Em todos os dias os fiéis se reúnem na capela de Nossa Senhora de Lourdes para rezar o terço e a ladainha de Nossa Senhora em Latim”, explica o quilombola Lindomar João dos Santos.
Outro tradição religiosa, segundo Lindomar, é a Festa de Santa Cruz, na passagem do dia 2 para 3 de maio. Os membros da comunidade sobem o Morro do Cruzeiro para fazer suas orações de agradecimento e seus pedidos.
“É importante manter as nossas tradições. É uma forma da comunidade interagir e se manter unida. Dessa maneira mantemos viva a memória de nossos ancestrais e reafirmamos a nossa identidade”, diz Lindomar dos Santos.
Projetos
Após ter obtido o certificado da Fundação Cultural Palmares, a comunidade Mato do Tição participou e foi selecionada em diversos editais voltados para a área cultural. Para isso, os quilombolas também contaram com a ajuda da Emater-MG, que orientou a associação sobre os editais, levantou demandas e auxiliou na elaboração dos projetos. Uma das propostas do grupo foi: “Quilombo do Mato do Tição – Preservação dos Legados Ancestrais”. O projeto foi selecionado em 2009 pelo Programa Mais Cultura – Pontos de Cultura, do governo federal em parceria com o governo estadual.
O projeto teve como objetivos resgatar e divulgar a cultura afrodescendente por meio de oficinas de fabricação de tambores, percussão, música e dança ministradas pelos moradores mais velhos da comunidade. Também foram oferecidas cursos de teatro, fotografia e audiovisual ministrados por profissionais especializados.
Com os recursos obtidos pela participação em editais públicos, a Associação Quilombola do Mato do Tição adquiriu máquina fotográfica, computadores, impressora, aparelhagem de som e instrumentos musicais.
Povos e Comunidades Tradicionais em Minas Gerais
De acordo com o Decreto federal 6.040, de fevereiro de 2007, Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados. Eles possuem formas próprias de organização social e usam territórios e recursos naturais como condição para a produção cultural, social, religiosa e econômica. Utilizam ainda conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
De acordo com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, em Minas Gerais foram identificados 17 Povos e Comunidades Tradicionais. Entre eles estão: povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadores artesanais, vazanteiros, veredeiros, ribeirinhos e povos ciganos.
Criada em 2015, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (SEDA) realiza diversas ações com esses grupos para promover o acesso à terra, a inclusão e dinamização produtiva da agricultura familiar e a segurança alimentar e nutricional.
“O objetivo do trabalho é contribuir para a implementação da Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais”, informa a Assessora Institucional da Subsecretaria de Agricultura Familiar, Flávia Leite.
Atuação da Emater-MG
A exemplo do que acontece na comunidade Mato do Tição, a Emater-MG tem prestado assistência técnica a Povos e Comunidades Tradicionais em todo o Estado. Em 2015, a empresa desenvolveu ações em 297 comunidades quilombolas distribuídas em 92 municípios, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Central. Cinco povos indígenas também foram beneficiadas pelo trabalho da Emater-MG.
A empresa desenvolveu ações para a inclusão produtiva, erradicação da pobreza, estímulo à comercialização agrícola e participação em políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar. O trabalho da Emater-MG também é voltado para os direitos individuais e coletivos, saneamento básico, abastecimento de água e preservação ambiental. “O principal objetivo com estas comunidades é contribuir para o seu desenvolvimento sustentável, através de ações de segurança alimentar e nutricional, inclusão social e produtiva, com a valorização de seus saberes, cultura e história”, diz a coordenadora técnica estadual da Emater-MG, Márcia Campanharo.