Oficinas reúnem professores de escolas quilombolas
A Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) realiza até sexta-feira (03.06) a Oficina Pedagógica: Ciências, Saberes e Fazeres Quilombola. O projeto, com quatro dias de duração, consiste em discutir, refletir e desenvolver o ensino de Matemática e Língua Portuguesa, com enfoque no processo de alfabetização e letramento para os professores das escolas quilombolas de Mato Grosso. O curso é realizado no Hotel Mato Grosso Palace, em Cuiabá.
Esse é o primeiro de quatro encontros que serão realizados para proporcionar um espaço de reflexão das práticas educativas e elaboração de matérias aos professores e gestores educacionais de comunidades quilombolas. Ao todo, participam dessa fase 30 professores das cinco escolas quilombolas e três salas anexas que atendem alunos de quilombo, além de profissionais da Seduc que trabalham diretamente com a Educação Escolar Quilombola.
A superintendente de Diversidades Educacionais, Gonçalina Eva de Almeida, explicou que o projeto irá subsidiar os professores para trabalharem nos processos de implementação do currículo específico e diferenciado a partir do diálogo e da gestão local, realizada pela comunidade escolar. O projeto também pretende fomentar a produção e a sistematização de materiais de apoio didático e pedagógico para as escolas quilombolas. “A oficina promove uma orientação metodológica para o professor, em como tratar a questão quilombola dentro das disciplinas para despertar no aluno o sentimento de pertencimento. Com o objetivo de melhorar a proficiência e reduzir o analfabetismo nessas comunidades”, esclareceu.
O professor Adailton Alves da Silva, especialista em Matemática Indígena, foi o responsável pela oficina de etnomatemática e etnoconhecimento, realizada na terça-feira (31.05). Ele explanou como a metodologia utilizada é uma questão ideológica. “A nossa cultura é de acumulação, então a primeira operação matemática ensinada nas escolares regulares é a adição, não por ser mais fácil, mas por ideologia. Nas tribos Xavante, a primeira operação é a divisão, por conta da cultura. Na qual os produtos, como caça e pesca, são colocados no meio da oca e divididos. A nossa conversa aqui irá apresentar aos professores quilombolas métodos para trabalhar a matemática a partir da cultura local”, observou o educador.
O secretário adjunto de Política Educacional Gilberto, Fraga de Melo, destacou a responsabilidade da Seduc em atuar e fortalecer a diversidade e agradeceu os professores das comunidades quilombolas. “Ser professor é uma pesquisa ação constante. Agradeço a determinação em fazer seu trabalho e resistir. Vocês têm compromisso com a resistência, que tem a ver com a identidade da unidade escolar”.
A professora Maria Helena Travares Dias, da Escola Quilombola José Mariano Bento, na comunidade Vão Grande em Barro do Bugres, também comentou sobre o fortalecimento da cultura negra e quilombola.
Ela está afastada da docência para o mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e voltará às salas de aula no segundo semestre desse ano. Ela está feliz, pois, após a formação terá mais subsídios para desenvolver a atividade e acredita que com o tempo, as escolas de Educação Escolar Quilombola serão frentes de resistência da cultura negra brasileira. “Essa formação é importante porque proporciona um suporte que evidencia a nossa cultura que é invisibilizada. Um exemplo é que após 45 anos a UFMT vai formar as duas primeiras mestres em Educação provenientes de quilombo, e eu sou uma delas”, destacou orgulhosa.