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O quilombo urbano construído pelo Minha Casa Minha Vida Entidades

Tereza Alves da Silva, 54, perdeu as contas de quantas vezes foi despejada e teve de se mudar com os filhos e netos, por não conseguir pagar o aluguel. A família de 12 pessoas vivia, como recorda, “no jogo do empurra”, que acabou por colocar todos sob uma lona de plástico nas ruas de Aparecida de Goiânia, cidade de 460 mil habitantes vizinha à capital de Goiás.

A trajetória de Tereza mudou em 30 de dezembro de 2015. Foi quando ela recebeu a chave de casa própria no primeiro quilombo urbano do País atendido pelo Minha Casa Minha Vida Entidades. Essa é uma modalidade do programa habitacional criado pelo  governo em que movimentos sociais, cooperativas  grupos de moradores elaboram projetos para realizar, eles mesmos, sem intermédio de construtoras, o sonho da casa própria. “Eu não tinha moradia. Eu era dona Tereza, sem moradia", recorda. "Hoje, tenho teto”, comemora.

 

Tereza trabalhava como faxineira quando chegou a perder um emprego para poder participar de uma das reuniões da Associação Quilombola Urbana Jardim Cascata, bairro na periferia da cidade goiana. Ela lamenta ter deixado para trás esse trabalho, mas a luta pela moradia era mais importante . “Eu não tinha casa. Sempre fui despejada. Agora vou ficar aqui até o dia que Deus me levar. E o dia que Deus me levar, [a casa] vai ficar para os meus filhos”, comemora.

Baiana de Santa Maria da Vitória, radicada há 25 anos em Goiás, Tereza trabalha na reciclagem de latinhas de alumínio nas ruas da cidade. A parte principal da renda é composta pelo Bolsa Família, que ela recebe em função de uma neta que cria.

As latinhas ajudam a sustentar a família e a pagar a mensalidade de R$ 35 pela residência recebida. "Eu cato latinha na rua para poder vender e pagar a prestação da minha casa e o IPTU. Antes a gente não podia nem comer. Hoje a gente tem feijão para comer", afirma.

Sonho

A família de Tereza é uma das cerca de 200 integrantes da associação quilombola presidida pela ex-merendeira escolar Maria Lúcia das Dores Ferreira, 60 anos. “Tinha uns vivendo em barraca de lona. Quando chovia, era para ficar preocupado”, conta.

O quilombo Jardim Cascata foi reconhecido, em 2004, pela Fundação Palmares, que identificou remanescentes de diversas comunidades negras do interior goiano vivendo próximos a Goiânia.

O reconhecimento levou a prefeitura a doar o terreno onde hoje fica o condomínio Del Fiore, construído após o repasse de cerca de R$ 4 milhões pela Caixa Econômica Federal. O projeto foi elaborado pela Associação Goiana de Atualidade e Realização do Cidadão (AGARC).

As obras foram iniciadas em 2014, após quase dez da “luta” iniciada por Maria Lúcia. O resultado foi a construção das 73 casas com 45 metros quadrados, compostas por 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e quintal nos fundos e área para garagem na frente das residências.

"Isso aqui, para mim, é um sonho realizado, que eu pisei firme mesmo [para conquistar]. Eu lutei muito. Tinha vez que eu não tinha realmente passe de ônibus e tinha de pedir para ir nas reuniões", recorda Maria Lúcia.

De acordo com a diretora da AGARC, Carmen Lúcia Rodrigues, a Caixa liberou R$ 60 mil para construir cada casa. Já a gestão compartilhada com os moradores e a doação do terreno ajudaram a economizar recursos e, com isso, instalar aparelhos sociais que não estava previstos nos projetos iniciais. "Nós pudemos fazer outras benfeitorias na comunidade, como o muro de 1,20 metro [cercando cada casa], o salão de convivência, a praça e uma academia ao ar livre", diz.

Futuro

A presidente da associação, Maria Lúcia, agora traça agora planos para utilizar o centro de convivência instalado na comunidade para estimular a geração de renda no local.

"A nova luta é fazer o social. Habitar o centro comunitário para colocar essas senhoras que não trabalham fora para fazer artesanato, trabalhar, para gerar renda e ter o seu dinheiro. Essa é a minha meta agora", indica a líder quilombola de Goiás.

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