Quilombolas de Alagoas denunciam prefeitura e padre por intolerância
Membros da comunidade quilombola Mumbaça, localizada no município de Traipu, região do Baixo São Francisco alagoano, entregaram, na manhã desta quarta-feira (11), uma carta com denúncias de perseguição por parte do padre da paróquia local e da prefeitura à Comissão de Defesa dos Direitos das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL).
Procurada pela reportagem do G1, a assessoria da prefeitura de Traipu informou que as denúncias não procedem, e que todos os moradores do município recebem tratamento igualitário. O padre Eduardo, principal nome citado pelos quilombolas na denúncia, não respondeu às ligações.
Segundo Valdice Gomes, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), as 400 famílias que moram na comunidade relatam que o pároco da cidade estaria impedindo a participação deles nas cerimônias religiosas e quaisquer outras atividades realizadas pela paróquia.
“O padre estaria sendo intolerante. Na missa, ele diz que as pessoas não podem dizer que são quilombolas. Em uma das procissões, no momento em que passaram em frente à comunidade, os fiéis começaram a cantar hinos, dizendo que quem estava ali era amaldiçoado, que os quilombolas seguiam ao demônio”, relata Valdice.
Ainda segundo a jornalista, os casos de intolerância já vêm ocorrendo há cerca de dois anos, desde que o padre assumiu a paróquia. “Segundo a tradição, quando algum quilombola morre, seu caixão deve passar pela igreja antes de ser enterrado. Isso também estaria sendo negado a eles”, afirma Valdice Gomes.
A carta também dá conta de que a comunidade está tendo problemas para conseguir atendimento nos postos de saúde e para matricular as crianças nas escolas do município. Eles acreditam que a prefeitura esteja apoiando a atitude do padre, que afirma estar seguindo ordens vindas do bispado de Penedo.
Os quilombolas já haviam procurado o Ministério Público Federal (MPF), para relatar essa mesma situação. A denúncia feita à Comissão de defesa dos Direitos das Minorias será encaminhada à Comissão de Direitos Humanos do órgão para ser protocolada.