A pisada do coco quilombola continua
A identidade cultural quilombola é fortalecida durante o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). No evento, as comunidades negras localizadas no município se encontram para compartilhar conhecimento e cultura. Desde terça-feira (22), os quilombos Timbó, Estrela, Tigre, Estivas e Castainho estão juntos, cada um mostra um pouco da sua identidade através da dança e da música. A sede do encontro é Castainho, a 5 km de Garanhuns, que também recebe oficinas e apresentações de teatro e circo de grupos do Recife, Olinda e Porto Alegre (RS).
Na abertura do encontro com apresentação do grupo Nação Negra Tigre, formado somente por mulheres, o líder quilombola Valdir do Tigre relembrou a importância da cultura para a visibilidade da comunidade. “O grupo de dança é um instrumento de luta para mostrar a nossa comunidade, a nossa cultura. Já existe há oito anos. Apresentamos coco, afoxé e ciranda”, afirmou.
De acordo com Valdir do Tigre (como é conhecido), o ritmo mais simbólico para o grupo é o coco, por fazer parte da tradição quilombola. “O coco é a nossa história. Antigamente, as pessoas de uma comunidade se juntavam e iam para outra quando precisava construir uma casa. Eles pilavam o chão da casa dançando coco e depois do trabalho continuavam dançando em comemoração”, contou. A irmandade entre as comunidades continua e a pisada do coco também. O próprio grupo Nação Negra Tigre foi criado pela influência de outras comunidades quilombolas, como a de Castainho, que já tinha formado antes o seu grupo de dança com o objetivo de fortalecer a identidade negra e quilombola.
De acordo com Valdir, o trabalho cultural dentro da comunidade trouxe diversos benefícios: “Temos uma festa, também chamada Nação Quilombola Tigre, realizada em outubro. Conquistamos melhorias em saúde e educação. Pessoas de universidades estão buscando conhecer a comunidade, fazem visitas”. Além do grupo de dança, o quilombo Tigre conta com mais dois grupos culturais, um de música formado por homens e outro formado por crianças.
Além das apresentações dos grupos culturais, o FIG proporciona o encontro de lideranças, que sempre se articulam para reivindicar políticas públicas específicas para as comunidades quilombolas. O líder José Carlos, da comunidade Castainho, falou sobre a importância de sediar o encontro e interagir com outros quilombos. “Nós temos a estrutura da escola, da casa de farinha e da associação para as atividades do festival. Reunimos cem pessoas durante o encontro aqui no Castainho, mas precisamos trazer mais gente das outras comunidades, por isso vamos avaliar a participação. A comunidade Caluete não está participando este ano, queremos que no próximo, participem também”, explicou.
Zé Carlos também ressaltou a importância das atividades do FIG, como por exemplo, a apresentação do grupo Cuidado que Mancha, de Porto Alegre (RS),com o espetáculo “A Família Sujo”, durante a terça-feira (22). “As crianças vendo teatro tem mais incentivo, as apresentações mexem com a mentalidade delas. Quando o festival termina, a comunidade continua e as crianças passam a brincar nas escolas, lembrando do teatro, do circo, das músicas, aí elas passam a fazer do jeito delas. Isso para gente é muito forte”, disse.
TEATRO – No fim da tarde, as crianças estavam atentas à peça de teatro apresentada pelo grupo gaúcho. A apresentação é definida pelo grupo como uma “radiopeça”, executada ao vivo com elementos de contação de história, teatro de objetos e música. Além da diversão, o espetáculo trouxe reflexão sobre os cuidados com a higiene na família.
Programação do Encontro de Povos Tradicionais no Quilombo Castainho
Quinta-feira, 24/7
17h – Coco Castelo Branco (Quilombo do Castainho)
17h30 – Negra-Atitude (Quilombo Estivas)
Sexta-feira, 25/7
14h – Socialização dos Resultados das Oficinas Temáticas
16h – Dança Afro Tigre (Quilombo Tigre)
16h30 – Quilombo Axé (Quilombo do Castainho)
17h – Percussão Afro Estrela (Quilombo Estrela)