• (21) 3042-6445
  • comunica@koinonia.org.br
  • Rua Santo Amaro, 129 - RJ

Educação Quilombola – A escola de Caveira

No dia 28 de maio de 2013 foi inaugurada, na comunidade remanescente de quilombo de Caveira, localizada no município de São Pedro da Aldeia (RJ), a Escola Quilombola Rosa Geralda da Silveira. O nome da escola é em homenagem à antiga moradora quilombola e líder sindical, conhecida na região como Dona Rosa da Farinha, referência feita à antiga casa de farinha que existia na comunidade.

Logo na entrada da escola encontramos, além do quadro com o retrato de Dona Rosa, um enorme painel ilustrado com os mapas do Brasil e do continente africano, onde consta a seguinte mensagem: “Bráfrica – A maior distância é o preconceito”. De acordo com o presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Caveira/Botafogo, Roberto Santos, a escola representa uma conquista da comunidade. Ela foi construída com recurso do governo federal repassado para a prefeitura de São Pedro da Aldeia. Um investimento de cerca de R$ 1,3 milhões provenientes do “Programa Brasil Quilombola”. Possui seis salas de aula, biblioteca, sala de informática, refeitório, sala de professores, sala de diretor, recepção e secretaria, tudo decorado com motivos étnicos.

A professora Cláudia Osvaldina Nunes Santos é quem está na direção. Cláudia é natural de São Pedro da Aldeia, do bairro de São Mateus, foi criada na casa de Dona Rosa, onde sua mãe ajudava nas tarefas trabalhando como lavadeira e cozinheira. Portanto, a professora é conhecida por todos da comunidade. Atualmente, Cláudia conta com três professoras que foram contratadas pela prefeitura para atuarem exclusivamente na escola. Por enquanto a escola atende apenas a Educação Infantil, mas o projeto tende a expansão.

A partir do próximo ano a escola começará a implementar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, aprovada em 20 de novembro de 2012. O objetivo das disposições é aproximar a prática educacional em territórios quilombolas da realidade sociocultural e política desses grupos, além de manter um diálogo direto com o movimento quilombola.

O município de São Pedro da Aldeia está localizado na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, a 135km de distância da capital. De acordo com a memória da comunidade, o quilombo de Caveira é formado por descendentes de escravos da antiga fazenda Campos Novos, propriedade da Companhia de Jesus que remonta ao século XVII. Com a expulsão da Companhia de Jesus, a fazenda Campos Novos foi confiscada pelo governo português e passou a se chamar fazenda D´El Rey. No século XIX, após a independência do Brasil, a fazenda deixou de pertencer ao patrimônio público e passou por sucessivos arrendamentos, onde apareceram vários supostos proprietários. A região tornou-se um importante complexo agrícola que incluía outras fazendas como, São Jacinto, Araçá, Botafogo, Angelim, Preto Forro, Pacheco e Retiro, que hoje fazem parte do município de Cabo Frio. Fazendinha, José Gonçalves, Tucuns, Caravelas, Vila Verde e Rasa, em Búzios. E, no município de São Pedro da Aldeia, Caveira.

Assim, com a ilegalidade do tráfico de africanos no Brasil, desembarques de escravos eram comuns na região de Búzios, mais precisamente nas localidades conhecidas como Barra do Una, Rasa e José Gonçalves. De lá os escravos eram levados até a fazenda Campos Novos através de caminhos internos que ainda são utilizados pelos moradores. A fazenda da Caveira foi batizada com esse nome porque lá foram encontradas várias ossadas. Os moradores contam que essas ossadas eram provenientes dos escravos que chegavam da travessia atlântica muito debilitados e não sobreviviam, sendo enterrados em covas rasas.

O Quilombo de Caveira foi certificado pela Fundação Cultural Palmares em 2004 e ainda hoje seu processo pela titulação do território continua em trâmite no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A escola que carrega o nome de Dona Rosa é a primeira escola quilombola construída no estado do Rio de Janeiro.

• Conheça a Escola Municipal Quilombola Dona Rosa Geralda da Silveira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo