Rondonistas organizam minicursos em comunidade quilombola do Piauí
A 31 quilômetros de distância do município de Paulistana, sudeste do Piauí, está o quilombo San Martins, uma das comunidades visitadas pelos estudantes da Operação Canudos do Projeto Rondon 2013. Com cerca de 92 famílias, a comunidade quilombola existe desde 1968.
O reconhecimento das comunidades quilombolas como propriedades definitivas dos negros só foi possível com a publicação da Constituição Federal de 1988. De acordo com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Seppir, no país existem 1.834 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Desses quilombos, apenas 20% possuem coleta de lixo adequada e 78% não possui energia elétrica. Em San Martins, por exemplo, a energia só chegou em 2009.
Apesar das dificuldades de se viver no local, como a seca e falta de emprego, Milena Martins, de 27anos, não pretende ir embora, como costuma fazer grande parte dos moradores do quilombo. “Para mim, ser quilombola é ser liberto, é o resgate da nossa cultura africana. E aqui estão minhas raízes, eu quero é ajudar a melhorar o quilombo”, comenta Milena que é estudante do curso de técnico em agroindústria e é a atual vice-presidente da Associação de Desenvolvimento Quilombola da Comunidade San Martins. Dentre as iniciativas do grupo, Milena destaca os projetos de criação de caprinos, medicina tradicional e galinha caipira.
Com o objetivo de apoiar para o crescimento do quilombo, equipes do Centro Universitário Univates (RS) e da Universidade Paulista (SP) foram a San Martins. Os universitários realizaram minicursos sobre meio ambiente, trabalho e saúde. “Em Paulistana (PI) nós decidimos passar por comunidades mais afastadas do centro pela dificuldade delas de acesso à informações e tecnologias”, explica o professor da Univates Rafael Eckhartd. Segundo Rafael, os rondonistas trabalharam também com a autoestima dos quilombolas: “a dificuldade é inerente ao local, mas isso não pode significar a perda da expectativa, da alegria”.
Fábio Tossano, estudante do último semestre de Odontologia da Unip, trabalhou com a prevenção de doenças e diz ter ficado impressionado com a escassez de recursos do local. “Aqui não tem como plantar, só tem pedra no chão. Vi ainda uma porca sendo acompanhada por leitões, mas ela estava tão magra que quase não conseguia andar.” Da experiência, o rondonista leva uma percepção diferente do Brasil. “É um país diferente, que a gente lê nos livros e ainda duvida. Acho que todos deveriam conhecer essas realidades e ajudar a mudá-las”, complementa Fábio.
O projeto Rondon existe desde 1967, mas o formato atual começou em 2005. De lá para cá, mais de 9 mil estudantes participaram de operações em 23 estados.