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A música tradicional no Quilombo João Surá

 Localizada no Nordeste do Paraná, próximo ao município de Adrianópolis, a comunidade de João Surá, cravada na região do Vale do Ribeira, possui 206 anos de existência. O documentário João Surá – música tradicional no quilombo, da cineasta e pesquisadora Lia Marchi que será lançado este mês apresenta o cotidiano das 40 famílias herdeiras de uma história culturalmente muito rica e que, apesar do êxodo rural, ainda abriga tradições seculares.

 
 
Lia conta que a dificuldade de acesso para chegar a Comunidade Quilombola João Sura – onde é preciso passar por uma estrada de terra de cerca de 60 quilômetros – favoreceu a manutenção de celebrações musicais como a folia do Divino, a dança de São Gonçalo, a encomendação de almas e a festa de Santo Antônio – padroeiro do quilombo. “Nossos filmes buscam contar para todo mundo, de maneira acessível, um pouco desse universo quase desconhecido. A proposta é ser uma ponte entre essa comunidade e o público da cidade”, considera.
 
 
A cineasta não concorda com discurso apocalíptico que diz que a cultura tradicional está acabando e vai morrer. “Na verdade existe um mundo pulsante e estamos em um momento de grandes acontecimentos”. Ela explica que o documentário nasceu da vontade de utilizar o audiovisual para chegar ao público com uma linguagem onde os ‘artistas’ ganham vida. “Na migração do campo para cidade, muitas pessoas acabam se instalando em centros urbanos distantes do seu modo de vida, de sua tradição e perdem a conexão com sua raiz. Vão se perdendo os códigos éticos, culturais que mantêm uma comunidade coesa. Acredito que nosso trabalho é a base para uma Cultura da Paz, que busca mostrar um tipo de vida onde as pessoas estão mais próximas, integradas e desfrutam do prazer que é se reunir, conversar e festejar em conjunto”.
 
 
O documentário mostra que alguns avanços já foram conquistados em João Surá, como a construção da escola quilombola Diogo Ramos (cuja preocupação é uma educação voltada para a valorização e o conhecimento da cultura local), a existência de um posto de saúde e o acesso à internet. Lia Marchi mostra a preocupação da comunidade em organizar uma Associação de Moradores que reivindica melhorias sociais para seus pares. Um dos resultados significativos foi a certificação do quilombo pela Fundação Cultural Palmares no ano de 2005. “O grande desafio dos quilombolas é preservar as práticas do grupo e os saberes dos mais velhos”, conta a cineasta que vê nas crianças e jovens a grande esperança de continuidade para a realização das festas e devoções ali mantidas. Entre as tradições do quilombo apresentadas no documentário estão:
 
A Romaria de São Gonçalo, festa realizada para cumprir uma promessa em agradecimento à bênção recebida. Nela, os tocadores e as cantadeiras entoam versos que, no dizer dos mestres, são inspirados pelo santo. Dançam em louvor a ele. É grande a devoção.
 
 
A Dança de São Gonçalo é feita nas chamadas “voltas”. A duração de cada volta varia conforme a quantidade de pares que seguem em duas filas fazendo reverência ao altar sem jamais dar as costas ao santo.
 
A Alvorada do Divino costuma acontecer ao final de uma romaria. Acompanhando a bandeira e comandada pelo mestre e sua viola, a comunidade canta dando uma volta na igreja. A bandeira do Divino também costuma percorrer a localidade no tempo próprio da festa do Espírito Santo, da Páscoa ao Pentecostes.
 
A Encomendação de Almas, ou recomenda, é uma tradição dos moradores. Em geral no período da quaresma, e raramente em outras ocasiões, cantam para as almas no cemitério, diante de uma cruz ou, ainda, à porta da igreja. Os cantos expressam o respeito e a devoção de todos.
 
A cineasta e pesquisadora Lia Marchi conta que estas tradições são práticas ligadas à vida rural da comunidade de João Surá. “Os detentores desse conhecimento são os mais velhos, como é o caso da cantadeira Joana de Andrade Pereira, uma líder comunitária contemplada com o Prêmio Culturas Populares 2009 – Mestra Dona Izabel, do Ministério da Cultura. Agradeço a ela e muitos outros que nos guiaram na música e na vida do quilombo”. O documentário João Surá – música tradicional no quilombo tem patrocínio do Banco do Brasil por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba.
 
<< Olaria Cultural >>
 
Desde 1998 Lia Marchi desenvolve pesquisas sobre música e cultura tradicional. Fundou a produtora cultural Olaria Projetos de Arte e Educação (1999), da qual é diretora artística, e coordena a realização de projetos que buscam documentar e divulgar o rico universo das tradições musicais populares brasileiras ainda pouco conhecidos pela maioria da população.
Entre suas principais publicações estão os livros Tocadores – homem, terra, música e cordas (2002), Tocadores Portugal – Brasil: sons em movimento (2006) e, mais recentemente, Folias do Norte do Paraná.
 
Como cineasta Lia Marchi produziu os documentários Tocadores – Brasil Central e Tocadores – Litoral Sul (2003), Divino – folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná (2008), Dias de Reis – a história de uma companhia de Reis de Curitiba (2009), Fandango – dança tradicional do Paraná (2012), Folias do Norte do Paraná (2012) e João Surá – música tradicional no quilombo (2012).
 
Hoje a Olaria Cultural desenvolve filmes, livros, oficinas numa abordagem múltipla sobre os modos de encarar o registro, documentação e o diálogo sobre as culturas tradicionais e estabelecer o dialogo com o universo da educação.
 
Serviço:
Documentário João Surá – música tradicional no quilombo, da cineasta e pesquisadora Lia Marchi.
Duração: 26 min.
Classificação etária: livre.
Preço de venda: R$25,00

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