17 de novembro de 2012
1º quilombo reconhecido no Brasil sofre perseguição policial
Eles têm medo até de sair ou chegar em casa, e denunciam que policiais militares começaram a agir com abuso de autoridade, revistando rotineiramente os jovens e adultos, constrangendo as crianças que brincam na praça em frente ao quilombo, o que culminou com a detenção e espancamento de um quilombola dentro de sua própria residência.
Enquanto o Coletivo Catarse produzia a reportagem acima, ouvia-se o relato do que aconteceu na noite do dia 25 de agosto. Apavorado com os homens armados dentro do quilombo, uma criança teria pedido ao pai que chamasse a polícia para defendê-los. O pai teria respondido: "esses homens na sua casa são a polícia".
Entenda o caso
Era uma quarta-feira, 25 de agosto. Lorivaldino da Silva passeava com o neto em frente à entrada do quilombo quando foi abordado por policiais militares. Paulo Ricardo Dutra Pacheco, seu cunhado, interveio pedindo respeito aos quilombolas. A partir daí foi perseguido e agredido pelos soldados.
O Capitão Zaniol, do 11° Batalhão da Polícia Militar, explica que Paulo desacatou e desobedeceu à autoridade, além de resistir à prisão, o que justificou perseguí-lo até dentro de sua casa, de onde saiu algemado e foi retirado à força na frente da mulher e dos filhos. Ele também foi espancado pelos policiais, conforme comprovam exames de corpo de delito realizados pelo Instituto Médico Legal.
Negros e pobres, vivendo num bairro predominantemente de brancos e ricos, os quilombolas se dizem cansados de sofrer com as batidas policiais e denunciam a Brigada Militar por racismo institucional.
O Capitão Zaniol nega as acusações de preconceito e afirma que não há intensificação do patrulhamento na área. Mas, segundo os moradores, a agressão sofrida por Paulo é só mais um entre muitos outros casos de discriminação e perseguição da polícia aos integrantes do Quilombo dos Silva, uma comunidade que é um marco histórico na luta do movimento negro nacional e referência na defesa dos direitos quilombolas.
Justiça
O caso foi denunciado ao Ministério Público Estadual, à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e ao Comitê de Combate à Tortura. Duas ocorrências policiais foram registradas sob os números 6552 e 6554 de 2010, na 8ª Delegacia de Polícia, pedindo providências contra possíveis arbitrariedades e violência por parte dos policiais. Um Termo Circunstanciado de número 2674402 foi feito no 11° BPM. Mas os quilombolas temem represálias, pois relatam estarem sendo ameaçados pelos soldados da Brigada.
Enquanto produzíamos a reportagem, ouvimos o relato de uma conversa que aconteceu na noite do dia 25 de agosto. Apavorado com os homens armados dentro do quilombo, uma criança pede ao pai que chame a polícia para defendê-los. O pai responde que esses homens em sua casa são a polícia.