20 de outubro de 2012
Pesquisas resgatam a história dos quilombolas e ciganos de Petrolina e Salgueiro
Povos tradicionais como quilombolas, ciganos e indígenas vêm se firmando cada vez mais em seus territórios de ocupação espalhados em áreas do sertão nordestino, ao mesmo tempo em que ganham espaço por suas lutas sociais e políticas, pela conquista definitiva de seus territórios e a continuada busca pela afirmação étnica na coletividade. A trajetória desses povos tem sido foco de vários trabalhos científicos. Um deles foi apresentado no mestrado de Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), pelo jornalista Emanuel Andrade.
O jornalista pesquisou processos identitários e territoriais da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, na área rural de Salgueiro, Sertão Central. Além de ler outros trabalhos sobre o tema, Andrade foi a campo para identificar como e quando esse povo se estabeleceu na área da caatinga, um processo iniciado há dois séculos e que nos últimos 50 anos teve intensificada sua afirmação étnica.
O trabalho aborda as mudanças ocorridas na localidade a partir da criação da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas (AQCC), registrada em 2000. Vai do contexto político-organizativo à importância de conteúdos etnográficos como as simbólicas bonecas de caroá, que homenageiam mulheres da comunidade e passaram a ser produzidas em escala comercial. As peças são vendidas em grandes feiras de artesanato do País e já foram até exportadas.
Segundo o pesquisador, a comunidade deu um salto positivo ao criar a AQCC e envolver jovens que atuam em vários segmentos como educação e agricultura nos trabalhos de artesanato e produção de popas do umbu. As bonequinhas de caroá reforçam a tese de que a localidade nasceu com a chegada de seis mulheres que teriam fugido dos Quilombos de Palmares e passaram a cultivar algodão, o que possibilitou a compra de parte da terra.
“Desde então, as mulheres sempre atuaram como lideranças e continuam exercendo um papel fundamental no campo sociopolítico, educativo e cultural, só que dividindo tarefas com os homens”, observa Andrade. Já na questão territorial, esse assunto sempre foi um nó na trajetória e nas lutas desse povo, com a presença de fazendeiro e posseiros que ainda vivem na área, o que ainda reflete na vida dos quilombolas.
Ciganos
O universo dos ciganos no semiárido também foi assunto de dissertação, no mesmo mestrado, da professora Joelma Conceição Rei. “Ele são considerados povos misteriosos e esquecidos pelas discussões sociais e políticas públicas”, comenta a autora.
A pesquisa teve como intuito entender como os eventos históricos da vida cigana se conectam e se relacionam com o presente. Para Joelma, não basta procurar as características culturais ou traços discretos que fazem do cigano um ser distinto culturalmente, ligado histórica e geograficamente a outros ciganos espalhados pelos territórios. É necessário encontrar elementos de territorialidade que mostrem quem são, o que é a sua cultura e como se autoafirmam enquanto identidade étnico-racial.
Dentro da proposta voltada para a ecologia humana, a pesquisadora refletiu ainda sobre a relação do povo cigano com o bioma e ecossistema de seu entorno socioambiental. Na pesquisa de campo, ela observou a etnia do povo cigano em Petrolina e na maior parte do Nordeste: Os calon ou kalé, como são chamados os ciganos ibéricos, que foram deportados para o Brasil no século 16. Em relação ao casamento cigano, ela verificou que o povo conserva “o dote”, que é dado pelo pai da noiva, e rituais que valorizam a honra e a virgindade da mulher.