Jimmy Christian inaugura exposição sobre uma comunidade de quilombolas
Omanauara Jimmy Christian imaginava que na Bahia só encontraria aridez e seca. Mas não foi o que viu quando chegou ao sudoeste do estado. “Encontrei uma Bahia cheia de vida, cheia de água, era o pantanal baiano. O lugar tinha um ar remanso e calmo”, relembra. O fotógrafo clicou o cotidiano dos negros que vivem em uma comunidade quilombola também conhecida como Arraiais dos Negros. O registro desse encontro está na exposição Remanso dos quilombolas, que poderá ser visitada desta terça-feira (8/11) até o dia 30, na galeria do 10º andar da Câmara dos Deputados.
A mostra reforça a programação de eventos para o mês da Consciência Negra e exibe a foto Nego D’água, vencedora da categoria Foto Única (Antropologia e Cultura), do prêmio Foto Arte Brasília, em 2009. Segundo Jimmy, Nego D’água também foi responsável por um dos principais momentos da visita do fotógrafo à comunidade. “Na região contam a história de um negro protetor dos rios e das florestas. Segundo a lenda, não se pode brincar com ele e nem extrair nada da natureza, senão ele vai te castigar caso não peçam a sua permissão. Essa história mexeu comigo e resultou em Nego D’água”, conta.
Jimmy Christian cortou um dobrado até entender que seu talento estava ligado à fotografia. Foi cartunista, policial militar e buscava um outro momento da vida quando fez na faculdade de ciências sociais um ensaio sobre os ribeirinhos que vivem nos igarapés de Manaus. A tese Beiradão urbano — Uma fotoetnografia dos igarapés de São Raimundo e Cachoeira Grande foi a partida para a carreira do fotógrafo, há 11 anos. A formação na Universidade Federal do Amazonas permitiu a Jimmy encontrar a forma mais dinâmica de trabalhar uma nova antropologia visual. “Meu olhar é amazônico e o emprestei para a cultura negra dos quilombolas neste novo trabalho”, explica. Remanso dos quilombolas é a primeira mostra individual de Jimmy em Brasília. “A cidade sempre me abriu as portas, expor aqui é um prêmio”, comemora o fotógrafo que mostra 20 imagens, todas em preto e branco.
Há 27 anos, os quilombolas de Riacho das Pedras tiveram suas casas inundadas pelas águas da Barragem do Rio Brumado. Além das casas, as áreas cultiváveis do local ficaram inutilizáveis. Em dezembro de 1999, os quilombolas conseguiram o título de domínio do território expedido pelo Instituto de Terras da Bahia e pela Fundação Cultural Palmares em nome da Associação Quilombola de Barra do Brumado, Bananal e Riacho das Pedras.
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