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Quilombolas na mira de pistoleiros

No Norte de Minas, a presença ostensiva de homens armados, contratados por fazendeiros como seguranças, mudou profundamente a rotina das comunidades rurais de Varzelândia, São João da Ponte e Verdelândia. Ali, ficam as terras onde essas famílias pretendem formar o território quilombola de Brejo dos Crioulos. A intimidação inclui o controle desses remanescentes quilombolas, principalmente à noite.

Líderes do movimento quilombola, João Pinheiro de Abreu, o João Pera, que é o presidente da Associação dos Quilombolas de Brejo dos Crioulos; e José Carlos Oliveira Neto já foram ameaçados de morte tantas vezes que até perderam a conta. Eles não andam sozinhos à noite, com medo de emboscada. A mãe de João, Joana Pereira Gonçalves, de quase 90 anos de idade, chegou a ser desalojada de onde mora há 41 anos, mas acabou voltando. A sua filha, Darcy, enfrentou o mesmo problema e durante alguns meses ficou sem água, com o abastecimento do poço cortado, em represália.
José Carlos não sabe como ainda está vivo. Um vez foi atacado por um segurança conhecido como Fabinho, que jogou o carro que dirigia contra ele, que se salvou por pouco. Em outra ocasião, quando entrou na Fazenda Bela Vista, que estava sendo ocupada, um dos vigias da área, identificado como Dodô, o abordou com uma carabina apontada para o seu peito. Como estava com um facão, José Carlos contrapôs que os dois morreriam ali, juntos. No descuido de Dodô, José Carlos passou-lhe uma rasteira e tomou sua arma. Ficou nisso.

A dona de casa M., de 50 anos, que pediu anonimato, também não sai mais à noite. Isto desde que um cavalo da família foi sacrificado. Aconteceu quando o animal entrou em uma das fazendas protegidas por um desses seguranças. Os tendões das pernas do animal foram cortados e ele ficou aleijado. Para agravar, o seu filho P., de 14 anos, que estudava em Furado Seco, deixou de ir a escola à noite. Isto depois de ser parado, quando voltava para casa, às 22h30, por dois seguranças, que o forçaram a levantar a camisa para provar que não estava armado.

A vendedora de produtos cosméticos Euzana Fernandes de Souza Lobato, de 23 anos, também não escapou da ação dos seguranças. Estava em uma motocicleta fazendo entregas na região quando foi abordada por três homens, um deles armado e identificado como Francisco Aparecido dos Reis, o Veio Tim, na estrada que dá acesso à localidade de Furado Modesto. Teve de provar que estava trabalhando e recebeu a ordem de não voltar mais, depois de ser advertida de que não levaria um tiro por ser bonita. Nunca mais retornou à região.

No dia 28 de maio, Vetinho Soares de Souza, de 29 anos, também ficou impressionado com a agressividade dos seguranças em Furado Seco. Veio Tim chegou ao local a cavalo. Como um cachorro latia demais, ameaçou o animal. Como o cão continuou a latir, Veio Tim deu um tiro no animal. Em seguida, desceu do cavalo e caminhou, com a arma em punho, em direção Vetinho, e ameaçou: O que foi? Na sequência, Veio TIM foi até a oficina do mecânico Clayton Ferreira da Silva, de 29 anos, e disparou um novo tiro a ermo, ordenando que ele espalhasse de quem era a autoria dos tiros. Me senti ameaçado, mas não entendi o motivo dele atirar, sem qualquer justificativa, contou.

Na última terça-feira, a Polícia Militar chegou a prender Veio Tim, mas o liberou depois de fazer buscas, sem sucesso, a procura de armas. O coordenador regional da Comissão Pastoral da Terra no Norte de Minas, Paulo Roberto Faccion, diz que foram registrados vários boletins de ocorrência, mas sem nenhum resultado. Já foi até realizada, no dia 9 de maio, uma audiência no Ministério Público Federal, para discutir a situação. O levantamento da CPT aponta oito pistoleiros ameaçando os quilombolas, sendo dois deles policiais reformados.

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