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Quilombolas de Serra das Viúvas criam Associação de mulheres artesãs

Comunidade Quilombola Serra das Viúvas em Água Branca/AL, festeja a criação da AMAQUI e do seu desenvolvimento socioambiental e ecoeconômico com produtos florestais não madeireiros

Edvalda Pereira Torres Lins Aroucha (1)

Desde 20 de junho de 2006, a Comunidade Serra das Viúvas – Água Branca/AL vem tentando fundar uma Associação, mas só no dia 15 de setembro de 2010, com apoio da ONG AGENDHA (Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento e Agroecologia) e seus parceiros, conseguiu oficializar a sua Organização Socioprodutiva: a AMAQUI – Associação de Mulheres Artesãs Quilombolas de Serra das Viúvas.

O tempo contribuiu para muitos aprendizados e a espera valeu, pois o Estatuto da Organização Socioprodutiva AMAQUI, criado coletivamente segue os requisitos “legais” e inova afirmando a identidade quilombola e suas relações socioambientais com a vida familiar e comunitária, a produção, o extrativismo, o beneficiamento e a comercialização de forma justa, ética e solidária.

Marlene de Araujo, presidenta da AMAQUI, diz com emoção e segurança que “ter conseguido registrar a Associação, é a realização de um sonho antigo. O nosso povo de vida quilombola agora sente mais confiança na caminhada. A gente que ‘ama aqui’, quer continuar cuidando da terra e vivendo do ofício que gera nossa renda e autonomia. Assim como lua guia nossa lida, o documento da nossa Associação também vai guiar nosso desenvolvimento”.

É importante ressaltar que a Comunidade de Serra das Viúvas recebeu da República Federativa do Brasil – Ministério da Cultura/Fundação Cultural Palmares, a Certidão (2) de Autodefinição como Remanescentes de Quilombo, em 06 de outubro de 2009.

Na AMAQUI, as mulheres desempenham um determinante papel, tanto na manutenção das tradições culturais da agricultura e dos criatórios, quanto na utilização sustentável de espécies da sociobiodiversidade, com destaque para o Licuri (Syagrus coronata), os diversos tipos de cipós popularmente denominados de verdadeiro, vermelho, branco, cruz, durinho, teiú, orelha de onça e unha de gato e ainda, palhas secas de espigas de milho e de bananeiras.

Com estes produtos florestais não madeireiros, as mulheres e homens quilombolas produzem diversos artesanatos decorativos e utilitários, como: abanadores, almofadas de vários tamanhos, árvores de natal, balaios, caçuás, caixas porta-treco de formatos e tamanhos diferenciados, cestas bocapio e de outros modelos, descansadores de panelas, flores de palha de milho, guirlandas natalinas, lustres, fruteiras, mandalas, vassouras, dentre outros produtos que criam e recriam constantemente com criatividade, beleza, harmonia, qualidade e durabilidade, com preço justo e acessível. Pelo papel que estas mulheres têm conseguido desempenhar, individual e coletivamente, a partir da aplicação de seus conhecimentos tradicionais, do desenvolvimento de práticas de manejo não predatório, voltados à conservação e utilização sustentável de espécies da sociobiodiversidade das Caatingas e de seus roçados, gerando renda e continuada melhoria da qualidade de vida, para si mesmas e as suas famílias, a AMAQUI fundada por elas, faz parte da Bodega de Produtos Sustentáveis do Bioma Caatinga(3)

Através da Bodega/AGENDHA e de seus parceiros (DGRAV-SAF/MDA, DEX/SEDR/MMA e do SEBRAE), a AMAQUI vem participando de várias feiras na região, em diversos outros Estados e principalmente das de grande porte nacional, como a Feira Nacional de Agricultura Familiar, que ocorre em Brasília/DF ou Rio de Janeiro/RJ. Dentre as internacionais a FENEARTE, em Olinda/PE e a ExpoSustentat em São Paulo/SP.

A preocupação da Comunidade e da AMAQUI com o local e a sustentabilidade do ambiente em que vivem é constante e estão sempre buscando as melhores condições para continuarem produzindo apropriadamente. Tanto que em 2008, mesmo com outras necessidades prementes, optou por apresentar a AGENDHA (4) um Projeto para o transplantio de plantas jovens de licuri, com os seguintes objetivos (5): (i) garantir o uso sustentável desta palmeira e o equilíbrio do meio ambiente; (ii) contribuir para o fortalecimento do artesanato e (iii) capacitar as famílias nas ações ambientais e uso dos recursos naturais. Com o projeto aprovado e recursos em mãos, plantaram mais de 300 plantas jovens desta palmeira em aproximadamente 4 tarefas de terra localizadas no entorno de suas moradias, na Serra das Viúvas – Água Branca/AL, onde vivem mais de 40 famílias, com significativa parte da renda familiar advinda da produção artesanal (decorativa e utilitária), principalmente da palha do licuri e dos cipós. Além destas iniciativas, lideranças da comunidade têm participado de vários eventos realizados pelas Organizações Não Governamentais e pelos Organismos Públicos (municipais, estaduais e federais), tanto para construção de propostas de políticas públicas voltadas para as comunidades quilombolas, quanto para atividades técnicas focadas no manejo e uso sustentável dos recursos naturais, a exemplo da “Oficina de consolidação das diretrizes técnicas (protocolo mínimo) para boas práticas de manejo da palmeira licuri (Syagrus coronata)”, nos dias 27 e 28 de janeiro de 2011, em Brasília/DF, organizada pela Coordenação de Agroecologia-SDC/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Diretoria de Extrativismo- SEDR/Ministério do Meio Ambiente. Desta Oficina participará Izabel Oliveira dos Santos, mais conhecida como Belinha, que finalmente em nome do licuri, enfrentará o medo de avião (viajará pela primeira vez), mas não resistiu e já perguntou: “no aperreio dá pra segurar na tua mão?” E assim, estas “Mulheres de Raízes”, com simplicidade, autoconfiança e determinação, vão continuando a “bela” história da Comunidade Quilombola de Serra das Viúvas em Água Branca/AL. E quem quiser saber sobre estas protetoras da natureza, é só ir acompanhando suas vidas e seus trabalhos, podendo falar diretamente com duas delas: Marlene ou Belinha pelos telefones (82) 9974 3469 ou 9927 8485 ou por e-mail acessado por elas uma vez por semana: amaquiterra@gmail.com e/ou diariamente pela coordenação da Rede Bodega: bodegacaatinga@gmail.com Paulo Afonso/BA, 18 de janeiro de 2011, numa tarde calorosa das caatingas

 

1 É coordenadora Geral da AGENDHA e atualmente faz mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela UNEB-Campus VIII, tendo como estudo a Comunidade Quilombola de Serra das Viúvas: “Mulheres de Raízes, Sustento nas Caatingas”, orientada pela bióloga, Dra. Eliane Maria de Souza Nogueira.

2 Com a certidão a comunidade poderá ser inserida nos planos públicos de ordenação e fomento do desenvolvimento regional, que tem como foco de ação quatro grandes diretrizes: regularização fundiária, infraestrutura e serviços, desenvolvimento econômic o e social, assim como controle e participação social. Essas diretrizes fazem parte do Programa Brasil Quilombola, criado em 2004 pelo governo federal, cujas ações visam alterar, de forma positiva, as condições de vida e de organização das comunidades remanescentes de quilombo, promovendo acesso conjunto de bens e serviços sociais ao seu desenvolvimento.

3 É uma Rede de Organizações Socioprodutivas que coletam, cultivam, criam e beneficiam produtos da sociobiodiversidade do bioma caatinga e comercializam na perspectiva de relação justas e solidárias, incentivando o consumo saudável e sustentável, de iniciativa e coordenada pela AGENDHA.

4 A AGENDHA foi Agência Implementadora do Programa Comunidades Tradicionais da Diretoria de Extrativismo do Ministério do Meio Ambiente, para com a Carteira de Projetos Tipo “A”, fomentar pequenos projetos com o repasse de até R$ 5.000,00 (cinco mil reais) não reembolsáveis, associado ao assessoramento técnico agroecológico e de gestão financeira e contábil.

5 Conforme descrito no projeto elaborado pela própria comunidade, apresentado e aprovado pela AGENDHA.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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