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Estado abre discussão sobre saúde da população negra e quilombola

Para discutir as vulnerabilidades da saúde da população negra, principalmente dos grupos quilombolas, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) iniciou nesta terça-feira, 27, o II Seminário Estadual de Saúde da População Negra e a I Oficina de Atenção à Saúde da População Quilombola em Sergipe. Os dois eventos acontecem simultaneamente até quinta, 29, no Hotel Parque dos Coqueiros.

Presente à cerimônia de abertura, a secretária de Estado da Saúde, Mônica Sampaio, justificou a necessidade do evento para num país tão miscigenado quanto o Brasil. “O Sistema Único de Saúde (SUS) precisa atender a população, analisando características de grupos específicos”, disse Mônica Sampaio, acrescentando que todo investimento que o Estado recebe deve trazer esta problemática.

 “Com a implantação de 102 Clínicas de Saúde da Família (CSF), estamos montando uma rede de serviços que deve atender as regiões longínquas, incluindo a população remanescente de quilombos. Mas, temos que preparar esta rede para romper com o preconceito racial e acolher estas pessoas. Nós, profissionais de saúde, temos a obrigação de cuidar de todos”, ressaltou a secretária.

De acordo com a antropóloga Fátima Lima, referência técnica em Violência das Populações Vulneráveis da Atenção Básica da SES, o seminário e a oficina resultam de um convênio com o Ministério da Saúde (MS), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a Coordenação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Coppir), ligada à Secretaria de Estado do Trabalho, da Juventude e da Promoção Social.

No âmbito da Saúde estadual, os trabalhos se concretizaram através da Diretoria de Atenção Básica e da Fundação Estadual de Saúde (Funesa). “Estes eventos são para fomentar a construção do plano de ação de saúde desta população. Vamos discutir as situações de vulnerabilidades desta parcela do nosso povo, pois historicamente os negros ficaram à margem de todas as políticas, inclusive da de saúde”, disse a antropóloga.

Política

Conforme Ana Costa, representante da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do MS, após o diagnóstico de saúde sobre a raça/cor do Governo Federal, ficaram claras as razões da desigualdade na saúde. “E, para reduzir isto, foi formulada a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A partir daí realizou-se um estudo profundo e descobrimos que a situação é mais grave do que pensávamos”.

Para a representante do Governo Federal, é preciso envolver as redes de saúde, como a atenção básica e a atenção especializada de média e alta complexidade. “O Estado de Sergipe está bastante empenhado e foi um dos primeiros da federação a implantar uma área para cuidar deste assunto. Sergipe tem muito ainda a andar, mas está caminhando”, destacou Ana Costa.

Na visão de Severo Dacelino, coordenador da Casa de Cultura Afro Sergipana, é preciso desconstruir o processo de segregação. “Temos que discutir também a exclusão do negro na saúde pública, temos que ser respeitados nos postos, pois falta essa atenção às doenças prevalentes nos negros, como a anemia falciforme, hipertensão arterial e miomas”, frisou.

Compartilha da mesma opinião Sônia Oliveira, membro da Sociedade Omolaiye (que na língua Iorubá, significa “filhos da terra”). “É necessário montar um plano de ação com as especificidades da população quilombola que sofrem das doenças étnicas, porque os quilombos estão distantes dos grandes centros e sofrem não só com a saúde, mas com vários problemas, entre eles o saneamento básico”, comentou Sônia Oliveira.

Anemia falciforme

De acordo com Maria do Céu Vieira Santos, coordenadora geral da Sociedade de Apoio às Pessoas com Doença Falciforme, existem em Sergipe 400 pessoas em tratamento. “No estado, são 15 comunidades quilombolas e praticamente todos sofrem com a anemia falciforme, cerca de 90% desta população”, informou.

Ela acrescentou que este ano, completa 100 anos do primeiro diagnóstico desta doença e ela ainda não tem cura. “E os profissionais de saúde confundem muito com outras doenças. No ano da epidemia da dengue, por exemplo, pessoas negras morreram das conseqüências da anemia falciforme, mas foi notificado como dengue”. Depois de testes mais apurados, descobriu-se que foi desta doença”, informou Maria do Céu.

Os dois eventos estão voltados para as equipes de saúde que atendem as 15 comunidades quilombolas localizadas nos municípios de Canhoba, Capela, Poço Redondo, Porto da Folha, Cumbe, Japoatã, Barra dos Coqueiros, Laranjeiras, Japaratuba, Brejo Grande, Frei Paulo, Santa Luzia do Itanhy, Amparo de São Francisco, Indiaroba e Aracaju.

Também participaram da mesa de abertura Andrew Lemos, representante da Secretaria de Saúde de Aracaju, Ana Débora Santana, diretora da Atenção Básica da SES, Cláudia Menezes, presidente da Funesa, José Pedro dos Santos Neto, coordenador da Coppir, Carlos Fonteneli, representante do Instituto Nacional de Reforma Agrária e Colonização (Incra), e Márcia Vieira, coordenadora de Políticas Públicas para a Mulher.

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