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As imagens da história

Se você tem mais de 18 anos, é morador de uma cidade brasileira com até 20 mil habitantes e pensa em fazer um filme para contar uma boa história relacionada à sua comunidade, mas não está em condições técnicas e financeiras para produzi-lo, então faça como dezenas de brasileiros que vivenciaram idêntica situação e encontraram o caminho para solucioná-la: inscreva-se até o dia 30 deste mês no Projeto Revelando os Brasis, uma iniciativa do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria do Audiovisual e do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), em parceria com o Instituto Marlin Azul.

O processo de inscrição é simples. Para participar, o morador envia sua história, não importa se verdadeira ou fictícia. Os autores das 40 melhores histórias são selecionados e participam de um curso intensivo de cinema no Rio de Janeiro (RJ). Durante a oficina, eles são apresentados à linguagem audiovisual, capacitando-se em produção, direção, roteiro, montagem etc. A diretora do Instituto Marlin Azul, Beatriz Lindenberg, afirmou que muitos dos selecionados do Revelando os Brasis não tinham sequer ido a um cinema quando suas histórias foram escolhidas.

O Revelando os Brasis foi lançado no dia 11 de agosto de 2004. Trata-se de um projeto da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), e conta com a realização do Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobras e a parceria do Canal Futura. A primeira edição foi lançada em Milagres, na Bahia. Beatriz informou que, no primeiro ano do projeto, cinco pessoas da Paraíba foram selecionadas. No segundo ano, foram três. No último, foram mais duas. A Paraíba é, praticamente, recordista de números de participantes, ressaltou a diretora do Marlin Azul.

Em 2008, José Aderivaldo, morador da cidade de Santa Luzia, no interior da Paraíba, sonhava em fazer um filme sobre a comunidade quilombola do Talhado, que, em 1960, ganhou projeção internacional como tema de Aruanda, dirigido por Linduarte Noronha, filme considerado como o precursor do Cinema Novo no Brasil. Eu não queria fazer uma refilmagem ou continuação de Aruanda, mas apenas mostrar o que aconteceu com o Talhado após o lançamento do filme. Conversei com amigos sobre isso, e um deles me falou do projeto. Fiz a inscrição e tive a sorte de ser selecionado, explicou.

Aderivaldo confessou que participar do Revelando os Brasis foi um dos acontecimentos mais importantes de sua vida. À época ele estudava Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e pesquisava a vida dos remanescentes de africanos que viviam no Talhado. Após ser selecionado, fiz um curso de introdução à linguagem cinematográfica no Rio de Janeiro, e consegui mostrar, a partir de depoimentos dos próprios moradores, que uma das contribuições de Aruanda foi levar o Talhado a ser reconhecida como uma comunidade de quilombolas, disse.

Em Aruanda, Linduarte narra o processo de ocupação e o modo de vida do sítio de Talhado, povoação iniciada por José Bento. Nomeados como comunidade quilombola, entre 2004 e 2005, o Talhado e parte do Bairro São José, em Santa Luzia, receberam da Fundação Cultural Palmares o auto-reconhecimento oficial como áreas remanescentes de quilombo. Esse reconhecimento produziu uma nova relação entre o povo, agora oficialmente quilombola, e os habitantes das outras áreas da cidade, destacou Aderivaldo.

No ano de sua produção, Talhado foi exibido e comentado, através de entrevista com Aderivaldo, na TV Cultura. Em seguida, o filme foi apresentado em Santa Luzia, reunindo mais de 600 pessoas, e na própria comunidade quilombola. Aderivaldo concluiu o curso de Ciências Sociais e hoje é diretor de uma escola pública no Talhado. Ele pensa em fazer um longa metragem para aproveitar todo o material que não pode ser aproveitado no curta. Estou pensando também em fazer um filme de ficção. É que após o curso no Rio de Janeiro passei a conhecer todas as possibilidades do cinema, justificou.

Três etapas

Beatriz Lindenberg disse que oprimeiro passo a ser dado por quem é selecionado no Projeto Revelando os Brasis é participar do curso de introdução à linguagem cinematográfica, no Rio de Janeiro, onde ele tem a oportunidade de conviver com profissionais da área, que compartilham conhecimentos relacionados a roteiro, planos de produção, fotografia, som e edição. Depois desta capacitação, ele retorna para sua cidade, monta sua equipe com moradores do próprio lugar e produz seu vídeo, com apoio de dois profissionais da área.

Já na terceira etapa do projeto, segundo Beatriz, as cidades dos 40 selecionados terão a oportunidade de conferir o resultado do trabalho por meio de um circuito de exibição. Três caminhões percorrem os estados brasileiros contemplados, incluindo as cidades dos moradores e as capitais, levando toda a estrutura necessária para montar cinemas ao ar livre e exibir as produções da região. O programa proporciona a esses moradores o primeiro contato com o mundo do cinema. Procuramos acompanhar os selecionados e percebemos que eles continuam produzindo, se capacitando e investindo na área, ressaltou.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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