Comunidade das Onze Negras luta por uma educação melhor
Em um tempo em que é preciso ter estudo para conseguir um emprego, mães de uma comunidade do Cabo de Santo Agostinho. Região Metropolitana do Recife, estão preocupadas com o futuro dos filhos. O motivo da preocupação se deve ao fato de a única escola existente na comunidade das Onze Negras está fechada e as crianças não têm onde estudar.
O local é habitado por descendentes de quilombolas, ou seja, habitantes de quilombos, que são comunidades formadas por negros que resistiam à escravidão e buscavam a liberdade.
O povoado do Cabo de Santo Agostinho recebeu o nome de Onze Negras por conta de um time de futebol formado por homens e que se chamava onze negros. De acordo com Maria de Fátima, moradora do local, quando as mulheres da comunidade resolveram se juntar para lutar por seus direitos decidiram que o nome seria Onze Negras.
A maioria dos moradores do local ainda vive do corte de cana-de-açúcar. “Meu pai era cortador de cana e sempre gostou de morar no mato. Depois de um tempo, esse lugar foi loteado pela CRC– Companhia de Revenda e Colonização”, explica Maria Conceição Marques.
A comunidade tem 460 famílias, todas com algum grau de parentesco. No passado, os moradores do quilombo lutavam contra a escravidão. agora eles querem uma educação melhor para a geração futura.
A única escola que existe na comunidade não funciona há um mês. “A gente não quer os nossos filhos estudando em uma escola caindo, com uma madeira podre, sem energia, faltando água no local, tem que trazer água de casa. A gente queria que os meninos terminassem o ano na escola”, comenta Maria Fátima.
As mulheres acreditam que a comunidade quilombola foi esquecida pelo poder público. “O teto está para desabar. Eles querem voto na época de eleição, mas na hora da obrigação eles não fazem”, desabafa a dona de casa Sandra Maria da Silva.
Sessenta crianças estão sem estudar há um mês. Dona Maria tem seis filhos e lamenta pelos dias perdidos de estudos de seus filhos. “A escola está parada e os meninos tudo em casa sem estudar”. Mas além da falta de estudo, os moradores também sofrem com a falta da merenda.
“A merenda é ruim, eu não vou mentir, mas ajuda. Quando tinha escola, tinha merenda. Agora tem que comer o que tem em casa”, explica Maria Rosineide da Silva.
Jonas mora perto da casa de dona Maria. Ele sempre ajuda os filhos da dona de casa. “Uma vez ele chegou lá em casa chorando. O menorzinho disse que estava com fome. Peguei e dei de comer a ele”, comenta Jonas Manoel da Silva, filho de uma das mulheres negras que representam a comunidade quilombola.
“Meu Deus, a gente não merece mais do que isso não. A gente merece muito mais. o que eu vejo é que estão querendo levar a gente de novo para a senzala, quer chicotear de novo.”, comenta a dona de casa, Laudjane Maria da Silva .
De acordo com a secretária de Educação do Cabo de Santo Agostinho, Gildineide Fialho, as crianças estão estudando em um imóvel alugado pela prefeitura para que não percam o ano letivo. A secretária afirmou que até março de 2010, a escola da comunidade das Onzes Negras estará com as obras concluídas. “Eu confesso que não é um mês que a escola está sem funcionar, porque tivemos os feriados, sábados e domingos. A Prefeitura vai investir R$ 83 mil no prédio. O prazo para início das obras é março de 2010”.
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